sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Nasceu!!!

"Família Sagrada" por Manuel Machado
Presépio Freguesia Moledo, concelho Lourinhã


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Silêncio e braços

Regressei por momentos ao Pavilhão Atlântico e voltei a ouvir David Gahan cantar qualquer coisa como Enjoy the silence. Poderá existir uma segunda oportunidade, para que possa corrigir a minha atitude de total apatia pela mesma música no concerto do passado dia 14 de Novembro? A cena: tudo num êxtase enorme de braços no ar a cantar algo como:
“palavras como violência quebram o silêncio, vêm e destroem o meu pequeno mundo, Penoso para mim perfura-me, tu não consegues entender, oh minha pequenina, tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu sempre precisei, está aqui nos meus braços, palavras são bem desnecessárias, elas só poderão magoar, promessas são feitas, para serem quebradas, emoções são intensas, palavras são insignificantes, os prazeres ficam, e a dor também, palavras são sem sentido, e são esquecíveis, tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu sempre precisei, está aqui nos meus braços.”
Enquanto ouvia a música no Pavilhão, e olhava para aquele tipo de cinquenta anos fazer uma incrível performance no palco, pensava: “Deve ser tão bom sentir aquilo. Tão bom. Eu sou feliz quando tenho as miúdas nos meus braços. Muito feliz. Adoro quando chego e vejo a “pipoca” vir ter comigo à garagem com os braços abertos – “mãe, adoro-te e tive saudades tuas” – ou quando a “mermaid” olha para mim com aquele ar seríssimo (que só ela sabe fazer), abraça-me e diz “não te preocupes, vai correr tudo bem. Nós estamos aqui para te ajudar.” São momentos de pura magia. Adoro o silêncio que ouço nos braços delas. Delicioso. No entanto, não é desse tipo de abraço que o Gahan está a falar. De todo. E esse, não tenho. Por isso, não me manifesto. Vou ficar aqui, teimosa, e não vou me mexer. Disse.”
Mas … e se existirem uns quaisquer braços? Algures. E os meus braços… com alguém?... outra vez. As palavras de Gahan ...até podem fazer sentido. Todo. Pode haver tanto para dizer, mas deve existir ainda mais para ouvir …no silêncio.
Violeta

Marc Chagall

domingo, 29 de novembro de 2009

cinco dias a amar...

Baleal - cinco dias, cinco noites
foto: Cristina Henriques

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

a surpresa

As surpresas são isso mesmo …surpresas. Surgem onde menos as esperamos. Atrás de uma porta, na penumbra de um quarto, no calor de um abraço, … surgem e ... só as percebemos quando o assombro já tomou conta de nós e ...somos felizes...
A casa vermelha (Peniche)
foto: Cristina Henriques

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

À espera da bonança...

Rilkean Heart
I looked for you to give me transcendent experiences
To transport me out of self and aloneness sent alienation
Into a sense of oneness and connection, ecstatic and magical
I became a junkie for it
I come looking for the next high and I'm sorry I've been putting the searchon the wrong place

I understand that you're confused, feeling overwhelmed
Well that's a feeling state from then, the reality

With cleaning up my emotional life and getting in touch with myself
I'm beginning to ground myself in my own sense of being as an entity
One entity on the planet,
Becoming truly self reliant
And become connected with something beyond me
That is where I have to go
I'm so sorry I've been putting the search on the wrong place

You're lost and don't know what to do
But that's not all of youThat's your reality today
And that is all okay

I understand that you're confused, feeling overwhelmed
Well that's a feeling state from then, the reality

Rilkean heart
Rilkean
heart x7
I'm lost I don't know what to do
It's not all on you
That's the reality today
Right now it's all okay
I understand that you're confused
Feeling overwhelmed
Love's a feeling straight from then
The reality

Tempestade

Henrique Pousão

Violetas


Foto por: Madruga

domingo, 25 de outubro de 2009

duas coisas tão distintas como “meu amor” e “meu amor”

Meu amor, basta ouvir a entoação. Repara, quando digo “meu amor” digo-o de forma diferente de “meu amor”. É bem claro, se digo “meu amor” não digo “meu amor”. Entendes, meu amor? “Meu amor” chamo a quem gosto e por quem tenho estima. Já “ meu amor”… não. Não chamo a ninguém. Devo ter chamado “meu amor” a duas pessoas na minha breve vida, mas não volto a fazê.lo. Não. Fechei quem de direito à chave e não volto a abrir. Acabou. Acabou e não há mais “meu amor” para ninguém. Fico com os “meus amores”. Pessoas de quem gosto e pelos quais tenho uma leal estima e que vão deixando marcas…marcas bonitas de serem sentidas. Entendes, meu amor?

Violeta

por: Cristina Henriques

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Quarto 909

"O quarto é o 909. A porta fica aberta. Quando chegares, entra." E deitei-me sobre a cama, duas almofadas debaixo da cabeça, um livro de poesia nas mãos. Por mais que tentasse ler, regressava sempre ao mesmo verso, "porque aqui não se pode amar, senão deixar-se amar", por me parecer mesmo verdade e ficar a pensar nisso ou porque a ansiedade me imobilizou qualquer gesto. Eu estava à tua espera há muito tempo, é bem verdade. "

Amor portátil
Pedro Paixão


Quarto, por Cristina Henriques

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Hoje choveu.

A frase dizia qualquer coisa como:”manda-me uma palavra”… Só uma. Uma. Às vezes necessito de qualquer coisa… uma espécie de inspiração e, muitas vezes, quanto mais pequena… melhor. É nas coisas ínfimas e simples que encontramos aquilo que nos altera, no sentido de vivermos um pouco mais a dita “efémera felicidade” que todos buscamos. Por isso, uma palavra. Uma só palavra pode ser sinónimo de nada, mas pode também ser sinónimo de tudo. Lembro-me sempre da passagem de uma carta que Frida Kahlo escreveu ao seu amigo de longa data Alejandro Arias, na qual dizia qualquer coisa como “escreve-me, nem que seja só uma palavra, mas escreve-me. Assim saberei que enquanto escrevias aquela palavra pensavas em mim…” Frida era brilhante. Um gigante brilhante, mas assustado. Assustado com uma coisa que se chama esquecimento... Uma palavra. Uma só. O poder do seu significado. Lápis, mar, manta ,colher, entardecer, arrepio, pedra, cheiro, … não importa se é um verbo, um adjectivo ou um substantivo, é uma palavra e as palavras transportam-nos. Leio: “chuva” e de repente já não estou aqui… não. Fui transportada pelo significado e estou no meio de um sítio mágico, numa cidade que adoro. Chove. (Eu amo a chuva, mas…) Chove muito. Refugio-me num espaço que me assombra com a sua intensa magia… estou na Casa Batlló. Logo nas primeiras salas não deixo de me encantar com uma das minhas filhas que tenta brincar com todas as formas das paredes e das portas… são rampas, são montes, são florestas e ela rapidamente compõe um conto infantil. Na verdade, ela também já não está ali, já está num outro lugar onde a magia dos talhes tomou conta da sua fértil imaginação de criança. Uma palavra. Às vezes basta uma palavra.


Violeta

A Popcorn na casa Batlló

foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

No mar (poema)

Das torres de areia e silêncio
Uma mulher se ergue no espaço,
Abraça a cal do tempo. Ama só.
E murmura à espera do encanto.
Líquida como a água,
Arcaica como o sonho.
De sangue e carvão verte as veias,
Chora a desventura, ri do que vem.
“- O mar sou eu”. Remota feito sonho,
Mira o rosto ao firmamento; nada vê...

Nas agruras da chuva que não vem,
No inconstante das ondas caudalosas.
Sem reposta ou esperança
Dissolve a vista que erra a esmo,
Abre o peito, resiste à dor.
Pra um dia se encontrar e morrer,
De uma vez ir e se perder,
Na promessa de um mar sem termo.


por: Leandro M. de Oliveira (Lee)

**A você Cris, mais uma vez minha amizade e meu zêlo. Que o mar se abra pra que possamos fazer a travessia derradeira.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

No mar


por: Cristina Henriques

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Para todos

De repente não posso dizer-te
o que te deveria dizer,
homem, perdoa-me, saberás
ainda que não escutes as minhas palavras
que não me pus a chorar nem a dormir
e que estou contigo sem te ver
desde há muito e até ao fim.

Eu percebo que muitos pensem,
e Pablo o que faz? Estou aqui.
Se me procurares nesta rua
encontrar-me-ás com o meu violino
preparado para cantar
e para morrer.


Pablo Neruda


por: Cristina Henriques

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Room 527 (Parte I)

Aqui vai…
1…2…3…(pausa) Espera. Espera, deixa-me respirar. Não é fácil. Não penses que é fácil. (pausa). Ok…agora… Sim, pode ser. 1,2,3: o dia, a casa, o mundo, as horas, o duche, a toalha, o vestido, os sapatos, as horas. (pausa) o telefone, a garagem, o carro, a estrada, a velocidade, as horas, a estrada, a musica… a musica… não me lembro da música. Como não me lembro da musica? Espera, espera… lembro-me… lembro-me. Escolhi alguma coisa que me levou até um lugar seguro… Agora lembro-me bem. De volta à estrada, a velocidade, o medo, as horas ….(pausa) a mensagem… (pausa). (respira, respira, respira, res…) a reposta. Agora, a resposta à resposta…O carro, a velocidade, os semáforos, o estacionamento subterrâneo… a porta do carro aberta… (pausa) o elevador. O elevador… o reflexo do vestido no espelho… os sapatos… estes sapatos fazem-me lembrar o movimento Arte Nova…muito… Klimt. Klimt… O corredor e a macia carpete debaixo dos meus sapatos… sapatos e passos… a passada pelo corredor…. A porta…o número…o toque suave e a medo… (pausa).a parede, o roupão, a mala, o beijo ,os sentidos…todos. (pausa) a tua mão na minha cintura, nas nádegas, (pausa) em todo o lado…o prazer de estar finalmente ali e ser enfim tua.


Room on fire

The Strokes

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

e porque hoje é Dia Mundial da Música...

por: Cristina Henriques

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Secretaria Judicial

Estou finalmente a ficar uma mulherzinha. Acabei de vir da Secretaria Judicial da Comarca do meu Concelho… Um episodio lindíssimo e digno, para que possamos perceber que até uma ida a um sitio destes pode ser “delicioso”… Vamos?


Secretaria ju-di-ci-al. Deve ser aqui. É pá!!!! Bem… eu espero que nunca, jamais, JAMAIS digam que a minha casa está desarrumada. Uau… que visão… aqui findam os meus sentimentos de culpa por ser desorganizada. Disse. A repartição é grande, muito cumprida, o balcão… revestido de uma fria pedra negra, mas não consigo descortinar de que tipo… dentro do balcão já não existe mais a típica senhora roliça de meia idade que vestia sempre a blusa de seda… nop… um simpático cavalheiro… que prima pela informalidade sem nunca deixar de ser formal… Espera. Estarei mesmo neste país? Não me lembro de ter viajado… por isso, deduzo que ainda aqui estou. Ah! O espaço. Um delicioso caos visual. Não sei como se consegue trabalhar nestes sítios, não faço a menor ideia de como o fazem, mas estou certa que devem ter qualquer preparação académica nesse sentido. Uma disciplina na faculdade que se deverá chamar: métodos e técnicas de produção no caos. Delicioso caos. Se esta secretaria fosse um quadro seria de Jackson Pollock. Tela no chão, um furo no fundo da lata e… tinta a viajar pelo tecido. Linhas…Emaranhados de cordões… lombadas assimétricas (muitas delas bem tortas) … linhas labirínticas… as portas dos armários abertas… manchas de tinta… Muito bom… e as garrafas de água pelas secretárias dos funcionários… pingos de tinta…delicioso. O funcionário entrega-me a certidão que lhe pedi…simpático. Acabaram os meus minutos por ali… dez deliciosos minutos na Secretaria Judicial.


Cristina

J.Pollock

domingo, 27 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sentir, mas não explicar...

por: Cristina Henriques

domingo, 20 de setembro de 2009

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, canta, chora, dança, ri e vive intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Anonymous


Red Room

Cildo Meireles

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Feliz Aniversário!!!

foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Poesia

foto: Cristina Henriques


Amo-te como um planeta de rotação difuso
E quero parar como o servo colado ao chão.
Frágil cerâmica de poros soprados no teu hálito
Vasilha que ergues em tua mão de oleiro
Cálice que não pudeste afastar de ti.

Daniel Faria, poesia

Carta a Nicholas Murray

Ainda as tuas excelentes sugestões musicais de há alguns dias … Se bem me lembro referis-te que vinham com o propósito de eu não me esquecer de ti… Difícil é mesmo não me lembrar, mas isso já o era… Quanto ao que mandas-te… como te disse, fui ao tapete. Acho que logo no terceiro round fui ao chão, ainda me tentei levantar, mas vences-te o combate por KO. Indiscutivelmente. Não conhecia “Aurora”, confesso que para mim as sugestões dos A Silent Film me souberam a mimo. Muito bom. Conhecer Fever Ray revelou-se também agradável. Já tinha ouvido "Daniel", de Bat For Lashes em qualquer lado, mas não a conhecia. Acabei por pesquisar um pouco sobre ela e descobri que também tem uma queda para as artes visuais...Não te imaginava a ouvir este tipo de sonoridade, serás uma caixa de Pandora? Obrigada. Amei Heart of Hearts, dos !!!. Quanto a Infinifold… Ainda hoje fui ao Baleal e no habitual passeio pela praia acabei por ouvir este tema… é de um poder estonteante e acaba por ter em mim um efeito difícil de entender… um misto de sensações que não se descreve. Afinal a música é isso mesmo, uma arte que está para alem das palavras, não se explica sente-se. Nas artes visuais esse efeito é mais difícil de conseguir (senão impossível).
Na altura, como resposta pensei em Michael Nyman, mas… a musica de Nyman tem um registo para mim muito particular. Se te tivesse respondido com Nyman, hoje não te estava a escrever… foi melhor ter optado por Elizabeth Fraser…

Um beijo grande

Aurora

Frida Kahlo fotografada em Nova Iorque por Nicholas Murray

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Teresa, o apartamento e os Tindersticks


Posso sentar-me aqui? Aqui, neste canto desta caixa postal? Quero ficar aqui. Escondida. (Aqui não me vão encontrar de certeza. Aqui nem eu me vou encontrar.) Não digas nada. Nem precisas de olhar para mim. Deixa. Se eu gritar não ligues, se soluçar de choro não olhes. Não te preocupes. Tudo passa. Que raio de dia. Eu sei que já te devia ter escrito. Eu sei exactamente o que tenho para te dizer. Digo depois. Musica. Põe qualquer coisa, mas alto. Põe Blur. song 2.Isso. Mas alto. Muito alto. Não quero ouvir o meu pensamento. Estou farta das das minhas ideias. A luz. Apaga. Comecei o dia com uma palmada na “Miss” Popcorn, devias ter visto a birra. Logo a seguir a “Miss” Mermaid perdeu os óculos. Porque perdem as pessoas os óculos? Eu também perco os óculos, mas eu sou eu, sou um despiste sempre pronto a acontecer. Mas isso agora não interessa nada, eu só não quero ouvir as minhas ideias… estão por todo o lado. Abafa-as. Estão espalhadas pela casa toda, na sala, na cozinha, até na lavandaria tenho ideias. A música? O que quiseres. Qualquer coisa. Escolhe. Não sei. Espera! Creep, dos Radiohead. Já tenho saudades. Andávamos a estudar e ouvíamos. Que bom. Lembro-me da Teresa que sofria de um síndrome anti apartamento. Nunca tinha vivido numa coisa daquelas, então resolvia arrumar o quarto, e muitas vezes a disposição dos móveis, às 4 ou 5 da manhã. Enquanto isso, ouvia Radiohead ou Tindersticks. A Teresa era uma querida. Tenho saudades dela. Tenho saudades de todos. Tenho saudades dos cheiros daquela altura. Muito bom. Saudades bonitas. Melhor. Já me sinto melhor, obrigada. É verdade, já ouviste o álbum do Thom Yorke? O Eraser? Está giro. Analyse é um tema que acho particularmente interessante. Deixa ouvir só um pouco, porque tenho de ir. Já estão à minha procura. Estão sempre à minha espera, eu é que penso que não. Ainda tenho de ir buscar a Popcorn e a Mermaid. Preciso daquele mimo que elas têm sempre para me dar. Sim. Podes acender a luz sim. Obrigada pelo abrigo.


Fica bem

Cristina

foto: Cristina Henriques

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cocteau twins no Planalto das Cesaredas

Quando ouço Bleubeard na voz de Elizabeth Fraser, acontece-me sempre a mesma coisa. Sempre. Saio. De repente, já não estou aqui. Estou lá fora. Calcei as botas, vesti o meu corta-vento e estou no Planalto. Adoro o Planalto. Tento descobrir onde escondeu a natureza os trilhos que me levavam até à minha avó. Estamos no crepúsculo do Verão, mas o leve vento na cara lembra-nos que o Outono em breve nos vai envolver com as suas formas e cores tão peculiares. Quando ouço Bleubeard dos Cocteau Twins, acontece-me sempre a mesma coisa. Sou feliz.
Cristina


foto: Cristina Henriques

nós estamos a mexer com os limites...

Ouve comigo …

Maybe I've forgotten the name and the address of everyone I've ever known It's nothing I regret. Save it for another day, It's the school exam and the kids have run away. I would like a place I could call my own, Have a conversation on the telephone, Wake up every day that would be a start, I would not complain of my wounded heart, I was upset you see, Almost all the time, You used to be a stranger, Now you are mine. I wouldn't even trust you. I've not got much to give. We're dealing in the limits. And we don't know who with. You may think that I'm out of hand. That I'm naive, I'll understand. On this occasion, it's not true, look at me, I'm not you. I would like a place I could call my own, Have a conversation on the telephone, Wake up every day that would be a start, I would not complain of my wounded heart. I was a short fuse, burning all the time, You were a complete stranger, Now you are mine. I would like a place I could call my own, Have a conversation on the telephone, Wake up every day that would be a start, I would not complain about my wounded heart. Just wait till tomorrow,I guess that's what they all say, Just before they fall apart…*

Há coisas que teimam em ser intemporais.

Cristina


foto: Cristina Henriques

*Regret, New Order

Voar

Setembro de 2009

De repente já não estou aqui. Senti que me levas-te. (meu amor). Estou a bordo de uma aeronave, rumo a uma distante cidade algures num outro continente. Estou dentro de ti, alguém que me ama. Sei que não devia estar. Sei que estou a mais. Tenho de voltar para casa. É urgente. Não consigo. É esta minha vontade (ou será a tua?). A tua vontade leva-me. (meu amor). Por momentos estou mesmo contigo, levas-me no pensamento. Levas tanto de mim que quase me arrancas a carne dos ossos. (meu amor). Voltei a chorar com saudades tuas. Eu não te devia amar assim. Amar assim é errado. Este amor é errado. José Luís Peixoto repete 240 vezes “quero morrer”, eu repito “amo-te”. Sinto que estás dentro de mim. Sinto que te entranhas-te na minha pele, na minha carne… (meu amor). Amo-te mil vezes. Sempre. O avião. Dez mil metros de altitude. Lá fora a temperatura é aterrorizadora, mas aqui estou viva e afortunada. (meu amor). Não estou aqui.

Violeta

Singularidades da Papoa

foto: Cristina Henriques

Bíblias de Neons

Ponto um – O paradoxo

Sempre o mesmo. As faces depressivas são sempre delicadas. Conheço-as tão bem. Sinto-as vir ainda ao longe. Sei que são sempre dolorosas, mas não as posso evitar. Instalam-se e o resto é “mais do mesmo”. Não há nada mais estúpido e paradoxal que isto. Sou feliz, mas… deprimida. Não me dói nada, apenas a alma. Uma dor tão absurda que quase mata. Eu sei que é apenas uma substancia que falta no meu delicado “rapaz cinzento”. Uma espécie de defeito de fabrico do meu cérebro, mas a verdade é que muitas vezes me incomoda. Preferia não entender nada disto, porque o pior é ter a percepção de tudo e de não conseguir controlar. O passo seguinte é sempre o da auto-medicação.

Ponto dois – A Terapêutica

Duas horas. Duas horas numa suite de hotel. Sozinha. Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhh... Sozinha sim. Precisava de uma desintoxicação. Imperativamente. Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh…. Eu sei. Eu sei que sou perigosa sozinha. Eu sei disso, mas por vezes tenho mesmo de ficar. Preciso prender-me a mim mesma e enfrentar-me. O que nem sempre resulta, mas se não olhar para dentro não me posso ajudar. Shhhhhhhh… é sempre o mesmo. Trouxe ajuda: Som, Palavras e o Sol também por cá apareceu. Já não era capaz de ouvir, nem de ler nada do que me andava a rodear. Era urgente o isolamento, o sair do círculo e o respirar. Às vezes a melancolia vai embora assim.

Ponto três – No cars go

2006, Arcade Fire. Eu sei que já passaram três anos, mas há coisas que são mesmo intemporais. Precisava de ouvir, de chorar (pensava que já nem sabia chorar), de sentir, de me sentir. As coisas são mesmo assim. Há sítios onde os carros não vão mesmo. Não vão! Tenho de ser eu. O espelho negro e o seu terrível reflexo, não permito que me iniba. Não posso permitir. Definitivamente. Há um biquíni no fundo da mala e lá fora está uma pipoca e uma sereia à minha espera.





Ponto quatro – “Deixa o carro a trabalhar…”

(imagem: Neon Bible,c Arcade Fire)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Teoria das cores

Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor - sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.

Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.




Os Passos em Volta


Herberto Hélder


Yellow Moonbird

Joan Miró

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Eu volto... eu volto sempre.

Praia da Gamboa-Peniche
foto: Cristina Henriques

Ultimamente tem sido uma loucura viver a minha vida. Sei que anseias pelo meu regresso.. Em breve, meu amor. Prometo. Em breve .

Violeta

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Happy Birthday Mermaid


18 de Agosto de 2009

Minha querida

Dez anos. São dez anos meu amor. Dez anos a saber, a sentir o que é ser mãe. Obrigada meu amor. Não é fácil ser mãe, mas é muito mais difícil ser filha. Sei que existem momento árduos entre nós, onde muitas vezes reconheço que sou demasiado exigente e austera contigo, minha pequenina e doce sereia. Dez anos meu amor. Olho para uma parafernália de fotos tuas e vejo que te estás a tornar num fruto lindíssimo, que muitas vezes me inquieta com a sua serenidade e compreensão. Dez anos meu amor. Contigo aprendi muito, tudo o que as academias não são passíveis de nos ensinar. Contigo aprendi que a vida tem um sabor diferente depois de sermos mães. Dez anos meu amor. Muitas vezes te ouço dizer que tens orgulho em ser minha filha, mas na verdade, sou eu que me orgulho de ser tua mãe. Obrigada meu amor, minha pequenina sereia.
Da tua mãe
Cristina



foto: Cristina Henriques

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ouvir.

Ar, 24 de Julho de 2009
Para o Sylvano com um sincero OBRIGADA!
Cristina Henriques

PER ASPERA AD ASTRA

por: Cristina Henriques


"Per aspera ad astra" é uma citação latina que significa, por tradução livre, POR ÁSPEROS (CAMINHOS) ATÉ AOS ASTROS.

O tempo

Prescrição: Deve-se tomar o tempo 86 400 vezes por dia. A demora do tratamento, depende da gravidade da enfermidade. No entanto, não se conhecem efeitos secundários. O tempo é de facto o melhor remédio de todos.
Aurora






por: Cristina Henriques

terça-feira, 4 de agosto de 2009

desvairada

Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive...


Florbela Espanca

Nude over Vitebsk

Marc Chagall

Triste

Planalto das Cesaredas, 24 de Julho de 2009

Naquele dia fiquei triste. Mesmo triste. Triste. Triste. Eu não gosto nada da sensação de ficar triste. Nada mesmo. Por instantes fui até a "Uma casa na escuridão" de José Luis Peixoto: " perdi a consciência de mim, como se adormecesse muito lentamente, sempre a pensar quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer." Claro que esta agonia não foi provocada por ninguém. Sou eu. Sou sempre eu. Alimento-me do que não gosto. Agonia.


Aurora


foto: Cristina Henriques

Mensagem a Alex

Ar, 24 de Julho de 2009
Querido Alex
Finalmente!!!!!
Já não sabia o que pensar da tua ausência… mas enfim a resposta chegou. Não era a resposta que queria ouvir com certeza, mas nem sempre ouvimos o que gostamos e queremos. Há alturas em que lamento que me vejas dessa maneira, como uma espécie de predadora, mas eu entendo-te.

Beijo
Aurora

foto: Cristina Henriques

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Querido Alex

Onde estás? Não sei nada de ti há semanas, reconheço que esta ausência me começa a angustiar. Temos as nossas divergências, mas este teu silêncio mata-me. Por onde andas? Voltas-te para Paris? Às vezes imagino-te por lá, pelo Barrio Latino… como é doce o que imagino...
Alex, a Vi está verdadeiramente preocupada com este teu afastamento. Claro que não fala disso, mas eu sei que ficou a pensar naquela ida ao teatro contigo… aquilo deve de lhe ter saído num ataque de coragem impar.
Tenho tantas coisas para te contar, mas para isso preciso que voltes.

Beijo
Aurora
O Gato
Chagall

Nickolas Muray

Coyoacán, 31 de Maio de 1931

Nick,


Amo-te como a um anjo.
És um lírio do vale meu amor.
Nunca te esquecerei, nunca, nunca.
És a minha vida inteira.
Espero que disso nunca te esqueças.



Frida


Por favor, vem para o México, como me prometeste! Iremos juntos a Tehuantepec, em Agosto.


Frida Kahlo fotografada por Nickolas Muray


Nota: Nickolas Muray (Hungria, 1892 - Estados Unidos, 1965), fotógrafo, crítico de dança, aviador, campeão de esgrima, foi apresentado a Frida, no México, por Rosa Rolando e Miguel Covarrubias. A relação amorosa entre ambos tornou-se mais profunda quando Frida chegou a Nova Iorque para apresentar a sua primeira exposição individual em 1938.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Sonho


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SAIR

por: Cristina Henriques


terça-feira, 7 de julho de 2009

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago



foto: Luis Pereira

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O planalto v/s Nova Iorque

Reparei que afinal não é um rio que separa as nossas margens, é um oceano. Atlântico. Um poderoso Atlântico. De um lado uma extraordinária cidade. Um magnífico hotel. Um quarto. Um sereno fim de tarde após uma bela sessão de compras na quinta avenida. Do outro lado, a “cauda” da Europa. Um abandonado planalto. Uma humilde aldeia situada no coração de um maciço calcário com cerca de 140 milhões de anos. Milhares de quilómetros separam este modesto lugar e a sofisticada metrópole que se auto denomina como a capital do planeta. Não falo apenas da uma distância geográfica… de todo. Quando penso em todo este cenário, vejo opostos. Num dos pólos estás tu no país das “liberdades”, a viver um 4 de Julho ao vivo, algo que te remete para a história dos homens que tu tão bem conheces e gostas. No outro pólo, eu, rodeada pelo silêncio e frio do maciço. Tudo isto não passaria de uma banalidade se não fosse o facto de tu viveres numa cela… Podes estar em qualquer lado, na cidade mais desejada ou no meio da savana africana, em nada isso altera o teu estado e a tua condição de prisioneiro. Prisioneiro de ti mesmo. Estás enclausurado. Aqui, no planalto, não há ninguém. Há minha volta não há nada, apenas… a liberdade.


Aurora

foto: Cristina Henriques

domingo, 5 de julho de 2009

Eu continuo sem perceber porque te permito isto. Não entendo. Entras sem qualquer contrariedade e instalas-te. Teimo em deixar que me agridas, para que assim, me possa sentir ferida. Como se as feridas me fizessem estar mais perto de ti…Sinto o modo como chegas, como preparas a lança, como me rasgas a carne… até sentires os meus ossos. Sinto a dor. Sinto cada pedaço dessa dor atroz. Agonio no chão, mas não te mando embora. Não entendo. Como te disse, só um ser superior e omnisciente saberá porque te quero aqui. Não me incomoda o modo violento como estás comigo, importa-me a tua presença. Quero-te aqui agora, neste momento. Mas... há sempre um fim para tudo. Para tudo. Um dia, eu não vou estar mais à tua espera. Um dia chegas e eu não te permito mais a agressão. Nesse mesmo dia, serás tu a sentir o poder da lança na tua pele.

Com amor
Aurora

La Columna Rota

Frida Kahlo

sexta-feira, 26 de junho de 2009

sempre o abismo

É incrível como ainda me alimentas. Como ainda despertas em mim a imaginação que teima adormecer. Incrível. Tu és, de facto, o meu abismo. Chego a pensar que nunca subi a falésia, que tudo não passou de uma ilusão e que eu ainda estou lá em baixo. A ti, já não te vejo... a tua fuga foi rápida e silenciosa. Às vezes penso que foi minha a opção de ter ficado no abismo...habituei-me à ilusão da tua presença e é essa ilusão que me alimenta.


Aurora

foto: Cristina Henriques

Diz-me o teu nome, pergunta-me o meu

Não sei qual é o teu nome, não houve tempo para trocar nomes. Na verdade, não nos interessavam os nomes; nunca pretendemos conhecer-nos. Desejávamos, apenas, passar algumas horas juntos: e fazer sexo; saciar o desejo, alimentar a fantasia, disfarçar a rotina; e esquecer. Partilhar os corpos, e não os nomes ou os sentimentos ou as sensações ou os medos; para isso temos os namorados. Fomos apenas dois estranhos que coincidiram na intenção momentânea de retirar prazer do outro; nunca nos ocorreu proporcionar prazer: isso implicaria um a dádiva; e dar é uma forma de amar. Não, nada disso: pretendíamos apenas obter prazer, usando o outro.
Foi para isso que te trouxe aqui: para te foder.


Gastar palavras
Paulo Kellerman

Blue Nude

Picasso

Trilhos

Os trilhos mais sinuosos e difíceis são, muitas vezes, os que maior magia nos trazem às nossas vidas.
Violeta

foto: Cristina Henriques

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O PESO E A LEVEZA

O eterno retorno é a ideia misteriosa de Nietzche que, com ela, conseguiu dificultar a vida a não poucos filosóficos: pensar que, um dia, tudo o que se viveu se há-de repetir ainda uma e outra vez e que essa repetição se há-de repetir outra vez, até ao infinito! Que significado terá este mito de sensato?
O mito do eterno retorno diz-nos, pela negativa, que esta vida, que há-de desaparecer de uma vez por todas para nunca mais voltar, é semelhante a uma sombra, é desprovida de peso, que, de hoje em diante e para todo o sempre, se encontra morta e que, por muito atroz, por muito bela, por muito esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não tem qualquer sentido.
(…)
Se cada segundo da nossa vida tiver de se repetir um número infinito de vezes, ficamos pregados à eternidade como Jesus Cristo à cruz. Que ideia atroz! No mundo do eterno retorno, todos os gestos têm o peso de uma insustentável responsabilidade. Era o que fazia Nietzche dizer que a ideia do eterno retorno é o fardo mais pesado (…).
Se o eterno retorno é o fardo mais pesado, então, sobre tal pano de fundo, as nossas vidas podem recortar-se de toda a sua esplêndida leveza.
Mas, na verdade, será o peso atroz e a leveza bela?
O fardo mais pesado esmaga-nos, verga-nos, comprime-nos contra o solo. Mas, na poesia amorosa de todos os séculos, a mulher sempre desejou receber o fardo do corpo masculino. Portanto, o fardo mais pesado é também, ao mesmo tempo, a imagem do momento mais intenso de realização de uma vida. Quanto mais pesado for o fardo, mais próxima da terra se encontra a nossa vida e mais real e verdadeira é.
Em contrapartida, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, fá-lo voar, afastar-se da terra, do ser terrestre, torna-o semi-real e os seus movimentos tão livres quanto insignificantes.
Que escolher, então? O peso ou a leveza?


In: A Insustentável Leveza do Ser
Milan Kundera

BAD NEWS

Não me lembro muito bem do que estava lá escrito, não me pareceu relevante. Bastou-me olhar e ler “más notícias” escrito numa língua anglo saxónica. Vertiginosamente pensei em no surprises, da qual curiosamente tínhamos falado no dia anterior. Para mim não existem surpresas, no entanto não tinha um plano B. Eu tenho sempre um plano B, por que raio não tinha um plano B? E que faço eu aos morangos que apanhei no quintal? Respira. Pensa: nada de surpresas. Respira novamente. Insisto nos Radiohead e nas palavras de Yorke: Um emprego que te mata; feridas que não vão cicatrizar; Um aperto de mão de monóxido de carbono; Vou levar uma vida tranquila; Sem alarmes e sem surpresas; Silêncio; Este é o meu último ataque, a minha última dor de barriga; Sem alarmes e sem surpresas; Sem alarmes e sem surpresas, por favor (deixa-me sair daqui); assim como uma linda casa; assim como um lindo jardim; Sem alarmes e sem surpresas; Sem alarmes e sem surpresas, por favor (deixa-me sair daqui). Entendo. É magnífica a melodia, mas… deixa-me sair.

Aurora

foto: Cristina Henriques

terça-feira, 2 de junho de 2009

Morreste outra vez

Finalmente, tiveste o teu ataque cardíaco. E eis-me aqui, neste quarto escuro e silencioso: sozinha.
Sei que gostarias de ter feito amor comigo, de te aliviar em mim; mas venceu-te a preguiça ou o cansaço ou o tédio; deixaste-te adormecer, enquanto eu ia adiando (…). Adiando, que é a minha forma de viver.
Apago a luz da casa de banho, fecho a porta para que não me persiga o cheiro das tuas botas, das tuas peúgas, dos teus pés, da tua carne. E vejo-te assim: tão estático e imóvel e hirto e imperturbável que só podes estar morto. Aproximo-me devagar, não sou capaz de te tocar. Não quero tocar-te. Sento-me na ponta da nossa cama, perto de ti; se quisesses, se pudesses, esticarias a mão, tocar-me-ias na perna, tentarias excitar-me, (…); mas não te moves. E eu concentro-me no esforço de não te olhar, de te esquecer. Tento distrair-me.


Gastar palavras
Paulo Kellerman

foto por: Cristina Henriques

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Lobos

O “Capuchinho Vermelho” é uma das histórias do imaginário infantil que a mim nunca me fascinou. Não entendia aquele medir de forças entre a pequena miúda e o terrível lobo. Sentia sempre um certo desequilíbrio, uma “assimetria de forças” (se é que isso existe…)
Mas quem é afinal esta gaiata que teimosamente desobedece a todas as advertências e entra pela perigosa floresta dentro?
Foi preciso chegar à idade adulta, e uma acidental visita à Biblioteca, para entender o verdadeiro sentido da história. Agora já percebi tudo. Repito, tudo. Basta ler este pequeno excerto que aqui deixo transcrito.

Aurora

Disse o lobo enquanto se vestia
Com as roupas que por ali havia.
Saia de seda, botas de verniz,
Chapéu de veludo foi o que quis.
Escovou o pelo, as garras pintou,
Bem disfarçado assim se sentou.
Um pouco depois, em passo apressado,
A moça chegou, toda de encarnado.

“Ó minha avozinha, quero saber,
As tuas orelhas estão a crescer?”
“Sim, minha neta, para melhor te ouvir.”
“Que grandes olhos tens, querida avó”,
Disse a menina cheia de dó.
“São para melhor te ver”, disse o lobo
E pôs-se a pensar: “ Não sou nenhum bobo,
Esta bela menina vou papar,
Que bom petisco para o meu jantar.
Vai saber-me que nem um pão-de-ló,
Não é velha nem dura como a avó.”
“Mas avozinha”, disse a menina,
Tens um casaco de pele tão fina.”
“Não”, disse o lobo, “Deves perguntar
por que são meus dentes de espantar.
Bem, digas tu o que disseres
Como-te sem prato nem talheres.”
A menina sorriu. Da camisola
Sacou de imediato uma pistola
E com uma certeira pontaria
Pum, pum, pum, aquele lobo morria.

Passaram os dias, passou um mês,
Vi a menina no bosque outra vez,
Mas sem o capuz, sem capa encarnada,
Toda diferente, toda mudada.
Sorrindo me explicou: Daquele bobo
Fiz este casaco de pele de lobo”.



(A menina do Capuchinho Vermelho e o lobo)

domingo, 31 de maio de 2009

A resposta correcta era "Morangos"...

foto: Cristina Henriques

Strawberry Fields forever

Let me take you down,
'Cos I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real
And nothing to get hungabout.
Strawberry Fields forever.

Living is easy with eyes closed
Misunderstanding all you see. ´
It's getting hard to be someone.
But it all works out,
It doesn't matter much to me.

Let me take you down,
'Cos I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real
And nothing to get hungabout.
Strawberry Fields forever.

No one I think is in my tree,
I mean it must be high or low.
That is you can't you know tune in.
But it's all right.
That is I think it's not too bad.

Let me take you down,
'Cos I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real
And nothing to get hungabout.
Strawberry Fields forever.

Always, no sometimes, I think it's me,
But you know I know when it's a dream.
I think 'er, no' I mean 'er yes'.
But it's all wrong.
That is I think I disagree.

Let me take you down,
'Cos I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real
And nothing to get hungabout.
Strawberry Fields forever.
Strawberry Fields forever.

(The Beatles)

sábado, 30 de maio de 2009

Feliz na fuga


Pela Madrugada já não te encontro, não estou mais lá. Fugi. Li tudo o que escreves-te. Tudo. Cada frase, cada palavra, cada sílaba. Queria escrever-te palavras bonitas como tu o fazes, mas não sou capaz. Não sou assim.
Icaro (coleccção Jazz)
Henri Matisse
Sabia que estávamos longe. Muito longe. Desde o início que senti que um dia te ia largar a mão. Acabaria por sucumbir à minha natureza errante. Sabia que iria fugir. É na fuga que sou feliz…
Violeta

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Querido Alex

Espero que estejas bem.
Não sei o que te dizer. Sei que te magoei, não o devia ter feito. Não sei porque o fiz, devo ter um lado oculto dentro de mim que teima em magoar os que mais me amam. Outrora devo ter feito uma parceria com Sade.
Sei que estives-te sempre a meu lado, querido Alex. Por isso, deixo-te aqui as minhas mais sinceras desculpas de algo que é indesculpável.
A Cristina é que tem razão, está sempre a dizer que não entende como ainda me toleras.... querido Alex

Um beijo

Aurora

The Grid

Pedro Cabrita Reis

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Demasiado tempo

“Quatro horas é muito tempo na vida de uma rapariga. Isto foi o que o meu amigo me disse quando lhe contei que ela me tinha telefonado para dizer que segunda-feira tinha tempo para estar comigo, e eu lhe perguntara quanto, e ela tinha respondido o suficiente, e eu tinha dito pelo menos quatro horas, e ela disse que não podia, que era demasiado tempo.”

Pedro Paixão

Pipocas e mimos no regresso casa

por: Cristina Henriques