O “Capuchinho Vermelho” é uma das histórias do imaginário infantil que a mim nunca me fascinou. Não entendia aquele medir de forças entre a pequena miúda e o terrível lobo. Sentia sempre um certo desequilíbrio, uma “assimetria de forças” (se é que isso existe…)
Mas quem é afinal esta gaiata que teimosamente desobedece a todas as advertências e entra pela perigosa floresta dentro?
Foi preciso chegar à idade adulta, e uma acidental visita à Biblioteca, para entender o verdadeiro sentido da história. Agora já percebi tudo. Repito, tudo. Basta ler este pequeno excerto que aqui deixo transcrito.
Mas quem é afinal esta gaiata que teimosamente desobedece a todas as advertências e entra pela perigosa floresta dentro?
Foi preciso chegar à idade adulta, e uma acidental visita à Biblioteca, para entender o verdadeiro sentido da história. Agora já percebi tudo. Repito, tudo. Basta ler este pequeno excerto que aqui deixo transcrito.
Aurora
Disse o lobo enquanto se vestia
Com as roupas que por ali havia.
Saia de seda, botas de verniz,
Chapéu de veludo foi o que quis.
Escovou o pelo, as garras pintou,
Bem disfarçado assim se sentou.
Um pouco depois, em passo apressado,
A moça chegou, toda de encarnado.
“Ó minha avozinha, quero saber,
As tuas orelhas estão a crescer?”
“Sim, minha neta, para melhor te ouvir.”
“Que grandes olhos tens, querida avó”,
Disse a menina cheia de dó.
“São para melhor te ver”, disse o lobo
E pôs-se a pensar: “ Não sou nenhum bobo,
Esta bela menina vou papar,
Que bom petisco para o meu jantar.
Vai saber-me que nem um pão-de-ló,
Não é velha nem dura como a avó.”
“Mas avozinha”, disse a menina,
Tens um casaco de pele tão fina.”
“Não”, disse o lobo, “Deves perguntar
por que são meus dentes de espantar.
Bem, digas tu o que disseres
Como-te sem prato nem talheres.”
A menina sorriu. Da camisola
Sacou de imediato uma pistola
E com uma certeira pontaria
Pum, pum, pum, aquele lobo morria.
Passaram os dias, passou um mês,
Vi a menina no bosque outra vez,
Mas sem o capuz, sem capa encarnada,
Toda diferente, toda mudada.
Sorrindo me explicou: Daquele bobo
Fiz este casaco de pele de lobo”.
(A menina do Capuchinho Vermelho e o lobo)
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