sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Resposta a Cristina

Querida Cristina

Fiquei feliz com a tua carta. Nada como as tuas palavras para me aquecerem a alma.
Como já sabes estou melhor. Não era sequer necessário a Violeta dizer-to, tu sentes quando estou bem. A Violeta diz que temos uma relação tão singular que um dia ainda escreve um livro sobre nós. Seria uma espécie de “best seller” de vão de escada.
Com tudo isto tenho sentido saudades tuas, do teu bom senso. Na carta referiste que estás um pouco inquieta. Entendo. Eu também fico desassossegada comigo mesma. Às vezes parece-me que nem o céu é o limite. Não tenho receio de nada, de ninguém. É como se no meu mundo não houvesse dor. Ainda ontem sai, o dia estava bonito e o sol convidou-me para passear. Dei comigo a vaguear por sítios estranhos, que tão bem conheces. Sítios e momentos frenéticos. Não me esqueço que foi num desses momentos que te arrastei para a angústia. Senti a tua mão e voltei para casa. Obrigada. Voltei para onde me amam e onde eu teimo em não deixar que me amem.
Não deixa de ser engraçado, foi a ti que te magoei, mas és sempre tu que me salvas. És sempre tu que me tocas com a tua mão e me indicas o caminho de volta.
Dizes que estás melhor, e eu sei que estás, mas ainda falta muito para voltares a ser a Cristina que eu conhecia. Aliás, quando recuperares estarás mais forte que nunca. Essa é a tua natureza, sempre foi.
Bom, termino com um beijo doce e um abraço forte.
Aurora Xavier

Post Scriptum: Começa a pensar em qualquer coisa para fazermos juntas. A Violeta diz que também quer vir connosco. Sabes como ela nos equilibra e se diverte connosco.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Carta a Aurora

Querida Aurora

Falei com a Violeta que me disse que estás melhor, já te levantas e que já sais à rua. Não imaginas como isso me deixa feliz, a ideia de te ver finar naquele quarto enlouquecia-me. No entanto, estou inquieta. Sei como és. Sei como pensas. Sei o que precisas. Conheço-te como a mim mesma e corres o risco de voltar a adoecer se não mudares. Podes parecer um ser impermeável e forte, mas não o és. Tu sabes disso. Tens de ter cuidado querida. A tua imensa sede de vida desassossega-me. Quanto a mim, estou melhor e esta notícia, das tuas melhoras, também me veio animar bastante.
Recebe um beijo doce de quem não te esquece

Cristina

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Desenho livre ...

"A minha mãe"

Francisca Pereira
2008

Desenho livre, uma expressão mental da criança

Estou de volta para a minha "menina" que não me pára de surpreender. Por isso aqui vai mais um bocadito da minha querida tese.


O desenho é uma manifestação eminentemente subjectiva, pois constitui expressão de noções individuais ou de impressões externas, interpretadas por um indivíduo.
No desenho livre a criança faz o que quer, desenha o que lhe apetece, ao contrário do desenho dirigido, onde o tema é proposto. O desenho livre como expressão de personalidade é mais do que livre, libérrimo, e não tem, nem pode ter, limite de assunto, nem embaraços. Tem, portanto, um grande valor não só psicológico, como também pedagógico, podendo orientar admiravelmente o professor no conhecimento dos seus alunos.
"As criações do desenho livre ou dirigido têm base inegável de realidade, mas o seu influxo é anterior à concepção, envolvendo criação, como o desenho à vista, reprodução. O desenho livre atrai o íntimo, em último extremo a imaginação, base de toda a arte (Magalhães, 1960,p.387). "
A tendência natural para o desenho pode, no entanto, sem perder o seu valor criador, corresponder a sugestões exteriores. Isto ocorre frequentemente com as solicitações da vida e muito mais no ambiente escolar, pois este desenho de tema sugerido pode atrair a imaginação correspondente a uma concepção pessoal de alguma coisa não vista realmente. Na ilustração de um conto, por exemplo, mesmo recorrendo a uma temática sugerida pelo adulto, a ilustração do aluno pode ser concebida e criada de uma forma livre recorrendo ao modo como “filmou” a história na sua memória. Este é um aspecto muito pessoal, diríamos mesmo que inacessível ao adulto.
(...) o desenho livre é igualmente um desenho de imaginação, pelo que estas denominações se devem tomar como esclarecedoras e de valor prático, pois não existe razão para separar estes dois tipos de desenho. Rodolfo Abreu (1960) defendia que a temática do desenho infantil foi, ou melhor, ainda era então tratada como sendo de pouco interesse. Muitos eram os estudos que justificavam a sua importância; contudo, muitos continuavam relutantes face a um exercício que não era mais que um catalisador do desenvolvimento da criança em diversos aspectos.
O estudo do desenho infantil não é uma ideia recente. Teve início após a Revolução Francesa, ou seja, está intimamente relacionado com os princípios da liberdade, pugnando para que a instrução fosse para todos os cidadãos, para que assim pudessem cumprir os seus deveres cívicos. Por seu lado, a descoberta da criança como um ser distinto do adulto não era de data distante; desde então, novas técnicas foram introduzidas na educação. A criança passou a ser tomada como um aspirante, que carece de auxílio e compreensão.
Já muito anteriormente, alguns pedagogos reflectiram sobre a criança. Rousseau, por exemplo, deixou duas ideias originais: não existe inicialmente maldade no carácter humano, e o ensino deve certificar que as faculdades naturais da criança se desenvolvem livremente. Pestallozi, por sua vez, advogou a educação pelo real e tal como Rousseau, reprovou a educação livresca e defendeu a natureza como objecto das suas lições.
Contudo, só no início do século XX o estudo da criança começou efectivamente a ser feito à luz da psicologia. Este estudo conduziu a uma concepção diferente da criança que até então era considerada como
“um adulto em ponto pequeno, um homenzinho que era preciso criar, com todos os requintes de educação autoritária, a que alguns pais ´bem falantes´ costumam chamar ´fina educação´. Favorecia-se assim uma preparação defeituosa, contrária aos fenómenos biológicos e fisiológicos, que caracterizam a vida infantil” (Abreu, 1960, p.4).
Foram estas novas reflexões sobre educação que levaram à descoberta da originalidade dos desenhos das crianças. Muitos foram os pedagogos e artistas que, especialmente, no decorrer do século XX, se evidenciaram na observação das manifestações estéticas da infância. Nestes estudos, nomeadamente os que Luquet realizou, pode ser observado que as crianças, quando entregues a si próprias, revelam energias físicas, mentais e estéticas. Exprimem uma dinâmica intrínseca que antes era ignorada pela imposição de uma disciplina amarfanhante, em detrimento do seu desenvolvimento integral.
Ao reflectir por momentos, podemos inferir que após o instinto da alimentação, a primeira necessidade que a criança manifesta é a do movimento. Quando a mão começa a agarrar alguns objectos, surge a necessidade de aperfeiçoar o movimento, ou seja, o instinto plástico. O desenho evolui com a criança, sendo um instrumento indispensável para o seu desenvolvimento integral. As vantagens que advêm do desenho são consideráveis. Entre elas podemos considerar o desenvolvimento da psicomotricidade, com especial destaque para a psicomotricidade fina, bem como o desenvolvimento de competências que posteriormente serão úteis para a aprendizagem da leitura e da escrita.
A expressão artística da criança deve ser considerada como um registo da sua personalidade, pelo que, ao favorecer este tipo de experiências, podemos auxiliar o seu desenvolvimento.
Beatriz Pais (1930) defendia que a criança ao desenhar estabelece uma estreita relação entre o psíquico e o mental, ou seja, a intenção de desenhar determinado objecto não é mais que o prolongamento e a manifestação da sua representação mental. O objecto figurado é o que nesse momento ocupava no espírito do desenhador um lugar exclusivo ou predominante.
Cristina

Depois

"Canção"
Chagall

Primeiro sabem-se as respostas,
As perguntas chegam depois,
como aves voltando a casa ao fim da tarde
e pousando, uma a uma, no coração
quando o coração já se recolheu
de perguntas e de respostas

Que coração, no entanto, pode repousar
com o restolhar de asas no telhado?
A dúvida agita
os cortinados
e nos sítios mais intimos da vida
acorda o passado.

Porquê, tão tardo, o passado?
Se ficou por saldar algo
com Deus ou com o Diabo
e se é o coração o saldo
porquê agora, Cobrança,
quando medo e esperança

se recolheram também sob
lembranças extenuadas?
Enche-se de novo o silêncio de vozes despertas,
e de poços, e de portas entreabertas,
e sonham no escuro
as coisas acabadas.

Manuel Pina

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Há horas que o sol se foi. Com a noite veio a melancolia, a mágoa. De repente havia demasiado silêncio. Confusa, hoje, permiti-me chorar.
Aurora
"Kiss"
Roy Lichtenstein

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Raízes

Quem me dera ter raízes
que me prendessem ao chão.
Que não me deixassem dar
um passo que fosse em vão.

Que me deixassem crescer
silencioso e erecto,
como um pinheiro de riga,
uma faia ou um abeto.

Jorge Braga
Herbário

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

sub mundo

Às vezes digo que tenho de ir até ao submundo, só lá me concentro. Só lá consigo pensar. A minha filha diz que esse mundo é de Ades, o deus das Trevas, por isso não me quer a viver lá...
Cristina

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

"É apenas com o coração que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos."
Antoine de Saint-Exupéry

"Preto e Violeta"

Kandinsky

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Pena Capital (excerto)


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

Mário Cesariny

criativos...

Agora que voltei a ler a minha "menina" (a minha tese) apercebo-me de algumas coisas que escrevi e das quais já nem me lembrava. Um desses temas é a Criatividade e, é engraçado, que nunca o achei tão interessante como hoje. Deixo aqui um pouco desse texto:
A criatividade é uma das definições mais imprecisas e ao mesmo tempo das mais encantadoras que existem. Para Ghiselin, a criatividade consiste no “processo de mudança, de desenvolvimento, de evolução, na organização da vida subjectiva”, já para Anderson, “a criatividade representa a emergência de algo útil e original”, enquanto Torrance define como sendo um “processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados”(citados in Souza, 2001,p.11).
O processo de criar tem sido descrito como o acto de combinar determinados elementos ou ideias, até então nunca relacionados. Algumas pessoas só aplicam a palavra criativo a um processo se o produto dele resultante for declarado como extraordinário. O pesquisador médico Hans Selye, propôs como critério de avaliação o seguinte: “Precisa de ser verdadeiro, precisa ser generalizável e precisa ser surpreendente” (Miel, 1972, p.38).
Outros acreditam demonstrada a qualidade de criatividade se o indivíduo fizer algo novo para ele que seja satisfatório e que, nesse sentido, lhe seja útil ao relacionar coisas que antes não estavam relacionadas. Por isso, devemos acentuar que o processo de fazer algo novo deve ser deliberado, em certa medida, para merecer o rótulo de criativo. Esse ponto pode vir, porém, depois de um acto intuitivamente frutífero.
Devemos ainda abordar a ligação entre a criatividade do indivíduo e um dos seus principais impulsionadores: a imaginação. A imaginação não é mais que um factor intrínseco ao ser humano que lhe possibilita laborar e combinar ideias e factos conhecidos, com o propósito de conceber novas ideias. Este factor possibilita ao indivíduo formar ideias abstractas e estar profundamente ligado à capacidade de criação.
Os indivíduos criativos possuem um nível de consciência e atenção superior aos demais, o que lhes faculta uma sensibilidade elevada, além de estarem constantemente predispostos a observar novas possibilidades e procurar novas relações entre as coisas. (...) Devemos ainda salientar que estes indivíduos apresentam duas linhas de raciocínio: divergente e convergente.
O raciocínio divergente é parte integrante da natureza humana. Os indivíduos servem-se de ideias simples para desenvolver outras mais complexas. Durante o processo criativo, usam elementos da criatividade que colaboram no momento criativo. Podemos caracterizar as pessoas criativas como sendo aquelas que têm comportamento interrogativo, geram muitas ideias alternativas, procuram soluções inovadoras e ousadas e abstraem-se facilmente. As pessoas que raciocinam de modo divergente têm facilidade em elaborar e conceber ideias originais. Além disso, ficam obcecadas na demanda da solução para um problema e trabalham com uma série de ideias simultânea e rapidamente, até deparar-se com soluções (Miel, 1972).
(...) Quanto ao raciocínio convergente, é um modo de pensar no qual o indivíduo busca a solução correcta para um determinado problema, do mesmo modo que procura a resolução exacta para uma questão de matemática ou física. Assim, um indivíduo ao pensar de modo convergente utiliza o raciocínio lógico e avaliativo com o objectivo de identificar o verdadeiro propósito do problema e circunscrever o universo de soluções ajustadas ao mesmo.
Qual a relação entre o papel dos hemisférios cerebrais e a criatividade? Pode-se identificar dois padrões de pensamentos discrepantes, sendo um capaz de reestruturar conceitos e outro avaliá-los.
Impõe-se então a questão: Como se caracteriza uma pessoa criativa? Se formos interrogados sobre os traços de personalidade de alguém criativo, quais seriam as respostas? Segundo o estudo de Souza (2001) o perfil do indivíduo criativo envolve alguns traços de personalidade que amadurecem ao longo do processo de criação, nomeadamente ao serem contornados determinados obstáculos no decurso criativo.
O momento de criação no indivíduo é semelhante ao momento de descoberta numa criança. Em ambos, o tempo é ilimitado, sem pressão por resultados, sem vigilância e com imaginação estimulada. Pode-se afirmar que a ingenuidade de uma criança colabora no processo de descoberta e aprendizagem da mesma. O comportamento deste tipo de pessoas corresponde à soma dos seus traços de personalidade, ou seja, molda-se a partir do desenvolvimento das suas habilidades e da não ocorrência de bloqueios durante o amadurecimento da sua criatividade. Este processo de aperfeiçoamento de um indivíduo criativo dá-se com o exercício e fusão de determinados padrões de comportamento pertencentes ao percurso criativo.
Este tipo de pessoas possui padrões de comportamento passíveis de ser identificados através da sua simples observação, tais como uma curiosidade extrema, uma persistência face aos obstáculos, a independência nas suas atitudes, entre outras. Apresentam ainda uma versatilidade de raciocínio admirável, conseguindo com relativa facilidade entender e encontrar novas abordagens e perspectivas onde soluções e ideias podem ser utilizadas. Muitas destas pessoas agem sistematicamente como crianças, ou seja, costumam explorar, experimentar a aprender com os erros, tal como as crianças. Esta é a melhor forma de ajustar e reorganizar as suas ideias, bem como a imaginação. Por último, a inteligência não é evidência de criatividade; inteligência compreende a capacidade de aprender e raciocinar, por sua vez, a segunda é a aptidão de criar novas ideias, conhecimentos e produtos.
Este potencial criativo humano tem, habitualmente, início na infância. Quando ainda crianças, os indivíduos têm iniciativas criativas enaltecidas e estimuladas pelos adultos que os rodeiam. Estas crianças tendem a ser indivíduos adultos mais ousados e inovadores. Quando alguém valoriza o trabalho de um indivíduo criativo, este tende a criar mais. O receio do novo inibe, tornando-se um obstáculo face às habilidades criadoras. A criatividade pode ser assim vista como um importante passo para o desenvolvimento humano. Sumariamente, poderemos afirmar que a criatividade é uma qualidade que todos os seres humanos podem demonstrar na sua maneira de estar, de viver. No entanto, os indivíduos diferem, a sua natureza e a sua educação influenciam a quantidade, bem como a espécie de criatividade que evidenciam.
Cristina Henriques

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém

Fernando Pessoa

"O Rio"

Monet

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

a agulha...

A sabedoria popular diz que "se queremos encontrar a agulha, basta queimarmos o celeiro". Que assim seja!
Cristina

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Hibernar

Adormecer "Retratos do Abismo", para agora cuidar da defesa da minha pequenina "Gata Borralheira"...



Retratos do Abismo

Como já aqui referi, "a única constante na vida é a mudança", talvez por isso "The science project- Subject: Love" é agora "Retratos do Abismo".

"Retratos do Abismo" será então um trabalho a integrar, possivelmente, no evento "Arte Happening" a acontecer em Peniche no final do mês de Maio. Este mesmo trabalho, poderá fazer parte do Projecto Aurora, ou seja "Retratos do Abismo" é não mais que uma fracção do "Projecto Aurora".

Maqueta da instalação: "Retratos do Abismo"

Trata-se de uma instalação composta por sete pinturas (possivel tamanho: 100x140), dispostas de modo circular (como se pode ver na foto da maqueta) e que terá no centro um colchão revestido por uma manta cinzenta. O trabalho será colocado no exterior, no jardim, sobre a relva. Os possiveis espaços são os que registados nas fotos A e B.
Espaço A

Espaço B


A Metáfora

Esta metáfora tem como principal propósito "retratar" o encontro com o desconhecido e com a nossa, sistemática, procura em conhecer e ultrapassar os nossos limites. Limites esses que impingimos a nós próprios, mas que teimamos em não respeitar... É nestes momentos que somos verdadeiramente despidos de toda a farsa que a sociedade nos vestiu.
Mergulhamos e não olhamos para trás, isso é imperativo. Lá no fundo do abismo somos realmente nós. Quando voltamos ao topo da falésia, não somos os mesmos, crescemos.
A vida pode ser uma sucessão de abismo, vividos de uma forma mais ou menos intensa, mas dos quais trazemos sempre uma panóplia de sentimentos e recordações que se transformam em brilhantes aprendizagens.


pormenor do "Abismo"

Os "Retratos"

1º-este elevador é aberto

2ºesta casa não tem quartos?

3ºcalor

4ºjanela com vista sobre a cidade

5º (a denominar)

6º(a denominar)

7º paredes frias

Todos os estudos das pinturas estão ainda numa fase muito prematura.

Cristina Henriques

Dia do "Amor Kitsch"

O cenário é o seguinte: Restaurante. Ambiente: romântico, logo patético. Pessoas: demasiado felizes, logo farsa. Arrepio-me. As mulheres como que saídas de uma revista cor magenta para sopeira ler, ou seja, demasiado bonitas. Os homens … como uns cavalheiros, bajuladores, ou seja, demasiado lambe-botas. O cenário é tão deprimente que roça quase o ridículo. Bebem champanhe, pois este é um lugar de pompa e circunstância. Quero vinho. Não suporto a ideia de fazer parte deste circo, logo eu que nunca gostei de circo… Quinta de Bacalhoa, sim pode ser, acredito que depois de ter a Bacalhoa como companhia, já consigo ver este triste espectáculo de outra perspectiva… Como o sistema financeiro mundial, o amor entrou em colapso. É urgente uma nova e criativa fórmula para o salvar.
Aurora

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ingenuidade


Nada se parece tanto com a ingenuidade como o atrevimento.
O. Wilde

por: Cristina Henriques (estudo)

Sofrimento

Estive a ler um excerto do Insustentável Leveza do Ser do Kundera, que o Leandro colocou no Soturna Primavera. Senti saudades do livro e foi procurá-lo na estante. Durante a minha busca reparei noutro livro que já li há muito tempo, o "Amor Portátil" de Pedro Paixão. Sequei-o logo da prateleira. Depois de uma breve visita ao índice dos capítulos, lembro-me de um em particular: "Sofrimento"...


"O sofrimento pode ter sentido, transformar-nos por dentro. É preciso paciência. (...) Faz parte do sofrimento deturpar as coisas, vê-las atravês de lentes tão fortes que facilmente entontecemos, nos desiquilibramos, caímos. Temos medo de tudo, de nós mesmos. (...) Somos assaltados por demónios que nos roem a alma. É um tormento em que nos atormentamos. É preciso ter paciência e o mais das vezes não temos. A violência da vida bate-nos em cheio. Procuramos abrigos e todos cedem e nenhum é suficiente. Recordamos a paz que perdemos como o bem mais precioso, ignoramos o caminho que nos traga de volta a nós próprios. Falta-nos a coragem, mas para nem encontramos motivo. (...) Agarramo-nos a coisas que se nos escapam entre os dedos. Só a morte está por todo o lado desperta, cerca-nos, olha-nos com os olhos muitos abertos, mete medo. (...) Vivemos, momento a momento, uma solidão que nos aperta a garganta, faz de nós o que quer. Uma música, uma palavra, uma folha caída e é o suficiente para nos trazer uma irremediável precisão de chorar. E quando choramos não sabemos bem porque o fazemos, é só a tristeza a tomar conta de nós."
"Amor Portátil"


Pedro Paixão
"O grito"
Munch

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Elefantes e Girafas

"-As girafas e os elefantes são os meus preferidos. Eu gostava que as girafas fossem as namoradas dos elefantes, mas não pode ser porque são diferentes. Eles não podem ser namorados, mãe."
Francisca
"O caracol"
Matisse

Vi

Acabei de falar com a Vi ao telefone. As coisas não estão fáceis, mas a Vi encontra sempre energia para continuar a lutar. Acho incrível a força que tem e a energia que transmite. A Vi diz sempre o mesmo: "Olha para a sempre. Não penses naquilo que já passou." Presente e futuro... Presente e futuro... Presente e futuro... Eu sei amiga, eu sei. Agora que penso, a Vi liga-me sempre em horas complicadas. Quando estou pior, a olhar demasiado para o passado, a Vi liga. Obrigada Virgínia.



Cristina
foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sensatez

"Alguém que é demasiado sensato faz disparates de vez em quando e com isso prova a sua sensatez."
O. Wilde
foto: Cristina Henriques

"-Shhhhhhhh, vai tudo correr bem."

foto: Cristina Henriques

Portas

Na vida passamos por um sem número de portas, que nos conduzem a um sem número de cenários

trespassamos e ... sempre vários panoramas...

dum lado uma vila radiante e colorida ...

do outro uma gigantesca e fértil várzea.


fotos: Cristina Henriques

Âncoras

Âncoras. São âncoras. Parece que é essa a metáfora ideal para entender o que são. Não são grandes, mas são fortes. Muito fortes. Posso iça-las e navegar mar fora. As âncoras vêm sempre comigo neste mar sem limites. Às vezes atracamos e eu salto para a água. Nado. Mesmo com as mais teimosas correntes oceânicas, nado. Posso não nadar muito bem, mas na água sinto-me livre e quando estamos livres sentimo-nos felizes. De quando em vez, visto o meu fato e mergulho. Nessa altura, entro noutra dimensão, um outro mundo, outra realidade. Magnifica. Ao ouvir o silêncio daquele imenso azul, quase me perco… mas tenho sempre de voltar àquele barco que está seguro pelas âncoras. Abandono as águas, volto a iça-las e partimos. Vamos juntas. Sempre juntas.

Cristina

"The sea at Les Saintes

Van Gogh

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Mudança

Na nossa sociedade a única constante é a permanente mudança.

Cristina


por: Cristina Henriques

A escolha

No rádio do carro, passa uma música da Rita dos sapatos vermelhos. Já a tinha ouvido. Aliás, pude assistir a um concerto da Rita dos sapatos cor de sangue e esta música foi um dos momentos altos. Que bom. O nome da música é “Choose Love”. Não vou sequer tentar perceber que quer esta poetisa dos tempos modernos dizer, interpreto aquela frase à minha maneira. Canto alto. Estou contente. “Choose Love”. Penso numa escolha. Aqui e agora, escolher o amor. Escolher o amor e viver. Escolher amar os nossos filhos, os cônjuges, os pais, os amigos...É na escolha deste amor que me revejo e estou feliz.

Cristina

foto: Cristina Henriques

Cortar

Eles cortam
Vós cortais
Nós cortamos
Ele corta
Tu cortas
Eu corto


Sim, eu corto. Cortei. Cortei o meu cabelo. É sempre assim, preciso de energia, logo corto o cabelo. Não derrubo um templo romano, mas fico com mais energia. Deve haver um nome para isto, mas eu decidi chamar-lhe “síndrome Dalila”. Sansão que me desculpe, mas eu não viveria sem a minha meiga Dalila. Sento-me na confortável cadeira e ela de navalha em punho, corta. Leveza e energia. Levanto-me, abandono a cadeira. De novo pronta para lutar, de novo posso voltar ao arena, os outros esperam-me.

Aurora

Viver na praia

Sempre vivi numa praia. A praia nem sempre era daquelas enormes com grandes extensões de areia, onde sabemos sempre como e para onde vamos, mas era uma praia. A visibilidade era notável. No entanto, a minha praia confluiu numa floresta… onde passei a viver. Não uma floresta qualquer, não senhor, mas uma daquelas húmidas, tão tenebrosa que mal conseguia ver o céu e o ar, sempre orvalhado. Horrível. Arrepiante. Fria. Detestei viver aí. Ficava dias sem ver o sol, e eu sem essa estrela não vivo, sobrevivo. De vez em quando, parecia ver a minha praia… não, sempre uma ilusão. Desespero. Sair. Queria sair, era urgente. Já mal via onde punha os pés. Parei. Calma. Olhei. Um raio de sol…outro…outro. Levantei-me. Devagar avancei na direcção daquela luz que me iluminava cada vez mais… Apressei-me e pensei “é mais uma ilusão”, progredi naquela vegetação e de repente… a praia!!!!!!!! Estava em casa. Não sei se era a praia de Porto Santo, com aquele imenso areal, ou a pequenina praia da Almagreira, mas era uma praia e eu voltava a estar casa.

Cristina

foto: Cristina Henriques

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ergue-te!

por: Cristina Henriques

Silêncio

Era isso mesmo que eu queria. Silêncio. Ouvir o silêncio. Libertar-me do enorme peso dos meus pensamentos e refugiar-me num doce e agradável silêncio. Aquele silêncio que ouvíamos quando começavam as férias grandes e éramos crianças. Que bom que era esse silêncio, a folia do não fazer nada. O silêncio que ouvimos quando nos deitamos ao sol numa tarde de verão. Que bom que é esse silêncio, o silêncio do calor do sol. O silêncio que se ouve quando fotografamos quem amamos. Que bom que é esse silêncio, o amor sereno dos nossos filhos. O silêncio que se ouve quando uma flor cresce. Que bom que é esse silêncio, a natureza a germinal. Era isso mesmo que queria. Silêncio. Ouvir um pouco de silêncio.

Cristina


foto: Cristina Henriques

It´s hard to get on the other side, but it´s not impossible... just wait and see.
foto: Cristina Henriques

domingo, 8 de fevereiro de 2009

...particulas e outros afins.

Já pedi que me explicassem, faziam um desenho, ou qualquer coisa, mas nada. Nada. Podiam explicar como se eu fosse uma criança, ou coisa assim. Nada. Nada. Mas eu sou teimosa. Sou mesmo teimosa. Acabei por encontrar na secção infantil da biblioteca um livrito que se chamava: “Apaixonado pelas partículas”. Ora, ali estava o que eu queria, um livro infantil sobre um assunto complexo. Nada melhor. Comecei a ler. “…quando fizeres um desenho, lembra-te que, embora não os vejas, estás a deixar no papel um rasto enormíssimo de átomos.” Interessante. Avante: universo, átomos, partículas, …protões, neutros e electrões? Eu lembro-me disto, mas não gostava nada daquela disciplina na escola (já nem me lembro do nome), mas lembro-me do professor, era um senhor muito bem disposto e catita que nos contava uma anedota de vez em quando antes de iniciar a aula. Persisto na leitura do simpático livrinho… “os protões e os neutrões vivem juntinhos no centro do átomo”… parece que o centro átomo também sobre um pouco de bipolarismo (o que explica muita coisa) … “num átomo existem pessoas optimistas (protões), pessoas pessimistas (electrões) e pessoas assim-assim (neutrões).” Hum… “O interessante disto tudo é que, como os protões têm uma carga eléctrica positiva e os electrões uma carga eléctrica negativa, atraem-se. Nunca ouviste dizer que os opostos se atraem e que os semelhantes se repelem?” Sim, e isso explica muita coisa…


Cristina
Vários círculos
Kandinsky

Pecado

"O pecado é um elemento essencial do progresso. Com a sua curiosidade aumenta a experiência da raça."

Oscar Wilde

foto: Cristina Henriques

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Morra a saudade, morra!

Há já algum tempo que não acontecia, mas hoje chorei ao sentir saudades. Foi mais forte que eu. Não aguentei. Aquela pressão no peito e o nó na garganta… a lágrima acabou por sair. Foi mesmo mais forte que eu. Se eu fosse o brilhante Almada Negreiros estava nesta hora a escrever um manifesto anti- saudade. Mas não, não o sou, de todo. Ouvi dizer que isto de saudades é uma coisa muito portuguesa, que a palavra “saudade” não tem sequer tradução. Isto deixa-me a reflectir… está na hora de mudar de nacionalidade.


Cristina

Começar a acabar

"O fim está no princípio, no entanto, prosseguimos."


Samuel Beckett


foto: Cristina Henriques

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Paralelismo ou marginalismo?

Viver os dois lados, será mesmo viver o paralelismo? Pa-ra-le-lis-mo. Paralelismo. Este conceito remete-nos, inevitavelmente, para as nossas longínquas aulas de Educação Visual, nas quais falavam das eternas rectas paralelas e do imortal exemplo da linha do comboio, onde a distância entre os carris é sempre a mesma. Logo, tudo o que é paralelo, nunca se encontra. Têm uma forte relação, mas nunca se encontram. De volta ao início: podemos viver duas realidades, podemos viver ambos os lados, mas a intensidade com que se vive não é constante. Por vezes, os lados estão mais próximos. Então o exemplo dos carris tombou. Não nos serve. Um rio, talvez… Uma realidade em cada um dos lados. Por vezes o leito é estreito, um ribeiro, quase pulamos de uma margem para a outra. Mas, logo a seguir um Nilo. Ah! O Nilo tem um leito enorme. Se estamos nesta margem, não alcançamos a outra, nem com o olhar. Assim, chego a um outro termo, o “marginalismo”. Vivemos. Vivemos muito… mas à margem e na margem.

Cristina

Paredes frias

por: Cristina Henriques

O Pássaro da Alma

No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que existe.
E não só sabem que existe,
como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma, lá bem no centro,pousado numa pata, está um pássaro.
E o nome desse pássaro é o Pássaro da Alma.
E ele sente tudo o que nós sentimos :

Quando alguém nos magoa,
o pássaro da alma agita-se para lá e para cá
em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.
Quando alguém nos ama,
o pássaro da alma dá pulinhos de contente,
para trás e para a frente, vai e vem.
Quando alguém nos chama,
o pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz
afim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco,
o pássaro da alma recolhe-se
dentro de si ,tristonho e silencioso.
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,
começa a crescer, crescer,
até encher quase todo o espaço dentro de nós,
tão bom para ele é o abraço.

Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca, nunca veio ao mundo alguém
que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
e não nos larga
- Nem uma só vez –
até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
desde a hora em que nasce até à hora em que morre.
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.
Ah, isso é mesmo muito fácil :
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
é o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como ?
Pois isso também é muito simples :
Com a segunda pata.

O pássaro da alma está pousado numa pata,
e com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga –
roda a chave da gaveta que quer abrir,
puxa pelo puxador, e tudo o que está dentro dela
sai em liberdade para dentro do corpo.

E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
o pássaro da alma tem imensas gavetas.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
E a gaveta dos segredos mais escondidos,
uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas.
Vocês podem juntar todas as que quiserem.

Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
as chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide.
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir
a gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- e em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
que faz com que ela se enerve.
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.
E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
e às vezes dá-lhe trabalhos...

Agora já compreendemos que cada homem
é diferente do seu semelhante
por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
e a alegria jorra para dentro do corpo e o dono dele fica feliz.
E quando o pássaro lhe abre a gaveta da raiva,
a raiva escorre de dentro dela e domina-o totalmente.
Até que o pássaro volte a fechar a gaveta
ele não pára de se zangar.
E quando o pássaro está de mau humor
abre gavetas que dão mal-estar.
E quando o pássaro está de bom humor
escolhe gavetas que fazem bem.

E o mais importante – é escutar logo o pássaro.
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas dentro de nós.
Há quem o ouça muitas vezes.
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouçaUma única vez na vida.
Por isso vale a pena
talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,
escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
no fundo, lá bem no fundo do corpo.

Michal Snunit


"Auto retrato"

Magritte

Calma

Que costa é que as ondas cantam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?


Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste
Se à vista do mar é sozinho?



Haverá rasgões no espaço
Que dêem para o outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
"Mensagem"
Fernando Pessoa


foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O amor é *odido

"O amor é *odido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser *odido. (...) Por que é que *odemos o amor? Porque não resistimos? É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não seja pelo menos parcialmente *odido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz."
Miguel Esteves Cardoso
"Nunca confies no contador, confia no conto."
D.H.Lawrence
"Amantes em azul"
Marc Chagall

Amizade

Pode ser que um dia nos deixemos de falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um do outro se lembrará.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

Albert Einstein

foto: Cristina Henriques

A minha irmã


Minha irmã, minha irmã
Uma noite sonho abraçar-te
Um cavalo vais agarrar
E galopar até mim
Juntas vamos voar
Num tapete de sonhos
A nossa amizade não tem fim
Minha irmã, minha irmã


Poema escrito pela Maria, dedicado à sua irmã Francisca

foto: Cristina Henriques

Francisca


“Ainda bem que foi hoje e ainda bem que foi de cesariana.” Disse-me o simpático obstetra, enquanto entregava a bebé a uma enfermeira, que de imediato a colocou a meu lado. “Olá. Agora já está tudo bem. Amo-te muito.” Foram as minhas primeiras palavras para a minha segundo filha que tinha acabado de nascer. Andava sempre de um lado para o outro dentro do meu ventre. Nunca parava. Cabeça para cima, cabeça para baixo. Nunca parava. Nunca. Deve ter sido por isso que o cordão umbilical deu um grande “nó cego”, o que quase comprometia a sua sobrevivencia. Olhei para o relógio do Bloco Cirúrgico, eram 15:43, do dia 16 de Janeiro e a minha Francisca estava finalmente ali ao meu lado. Aquela bebé tinha sido a minha grande companhia naqueles últimos meses e a espera tinha terminado. Era a ela que me dirigia e pedia ajuda quando estava frágil. Era uma fonte de coragem.


Cristina

por: Cristina Henriques

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Maria

Lembro-me como se fosse agora. Disse-lhe: “-Olá, nós já nos conhecemos, mas nunca nos tínhamos visto”. Não foi uma frase poética, como tinha imaginado dizer-lhe, contudo não é o que se diz que interessa, mas sim o que sentimos. Naquele dia senti algo que nem um brilhante nóbel da literatura poderá algum dia descrever. Naquele dia fui Mãe.

Cristina

"Maternidade"

Almada Negreiros

Subject: "Love"

Chamei-lhe “The Science Project- subject: Love”, mas não sei se no final terá esse nome. Eu já não sei nada e isso só revela que estou a aprender muito. Hoje nasceram os primeiros traços deste projecto, que será posteriormente integrado no Projecto Aurora. Não sei se vou conseguir levá-los a “bom porto”, mas vou tentar. Crescerá dia-a-dia com calma e serenidade. Conheço-me, por isso, haverão retrocessos… Um dia de cada vez. Enquanto trabalhava nos traços de hoje, surgiu-me, a frase de uma música, “an end as a start”, do último álbum dos Editors. Eu digo, e o Tom Smith que me desculpe, “the end can be a wonderfull start”.
Cristina

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ainda o Abismo

É difícil subir.
foto: Cristina Henriques

"Um quarto com vista sobre a cidade"

Lembro-me do filme. Devia ter uns quinze anos quando o vi. A síntese? O mesmo de sempre: Um beijo, uns namorados, um quarto. A cidade? Penso que era uma cidade italiana. A cena era muito romântica e graciosa, por isso ficou registada na minha memória.
Florencia, Reykjavik, Madrid, Auckland, Lisboa, não interessa, era um quarto e éramos nós.
Aurora

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Shhhhhhhhhh

"Soube logo que te ia amar" foi assim que iniciei o Abismo. O que eu não sabia é que ia viver a aventura mais surrealista da minha vida. Algo que não se conta nem à brisa do mar que nos brinda no final do dia. Shhhhhhhhh. Não se pode contar. É um segredo. Só no abismo se ama assim. São estes episódios surrealistas que nos alimentam a alma. Shhhhhhhh. Eu sei, eu sei, é um segredo. Se a brisa perguntar, vou mentir, digo que não desci. Fiquei na falésia, não havia ninguém à minha espera...

Aurora

foto: Cristina Henriques


domingo, 1 de fevereiro de 2009

Semente

O início também foi uma minúscula semente...
foto: Cristina Henriques

Trilho

Onde nos leva este trilho?
foto: Cristina Henriques