quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

criativos...

Agora que voltei a ler a minha "menina" (a minha tese) apercebo-me de algumas coisas que escrevi e das quais já nem me lembrava. Um desses temas é a Criatividade e, é engraçado, que nunca o achei tão interessante como hoje. Deixo aqui um pouco desse texto:
A criatividade é uma das definições mais imprecisas e ao mesmo tempo das mais encantadoras que existem. Para Ghiselin, a criatividade consiste no “processo de mudança, de desenvolvimento, de evolução, na organização da vida subjectiva”, já para Anderson, “a criatividade representa a emergência de algo útil e original”, enquanto Torrance define como sendo um “processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados”(citados in Souza, 2001,p.11).
O processo de criar tem sido descrito como o acto de combinar determinados elementos ou ideias, até então nunca relacionados. Algumas pessoas só aplicam a palavra criativo a um processo se o produto dele resultante for declarado como extraordinário. O pesquisador médico Hans Selye, propôs como critério de avaliação o seguinte: “Precisa de ser verdadeiro, precisa ser generalizável e precisa ser surpreendente” (Miel, 1972, p.38).
Outros acreditam demonstrada a qualidade de criatividade se o indivíduo fizer algo novo para ele que seja satisfatório e que, nesse sentido, lhe seja útil ao relacionar coisas que antes não estavam relacionadas. Por isso, devemos acentuar que o processo de fazer algo novo deve ser deliberado, em certa medida, para merecer o rótulo de criativo. Esse ponto pode vir, porém, depois de um acto intuitivamente frutífero.
Devemos ainda abordar a ligação entre a criatividade do indivíduo e um dos seus principais impulsionadores: a imaginação. A imaginação não é mais que um factor intrínseco ao ser humano que lhe possibilita laborar e combinar ideias e factos conhecidos, com o propósito de conceber novas ideias. Este factor possibilita ao indivíduo formar ideias abstractas e estar profundamente ligado à capacidade de criação.
Os indivíduos criativos possuem um nível de consciência e atenção superior aos demais, o que lhes faculta uma sensibilidade elevada, além de estarem constantemente predispostos a observar novas possibilidades e procurar novas relações entre as coisas. (...) Devemos ainda salientar que estes indivíduos apresentam duas linhas de raciocínio: divergente e convergente.
O raciocínio divergente é parte integrante da natureza humana. Os indivíduos servem-se de ideias simples para desenvolver outras mais complexas. Durante o processo criativo, usam elementos da criatividade que colaboram no momento criativo. Podemos caracterizar as pessoas criativas como sendo aquelas que têm comportamento interrogativo, geram muitas ideias alternativas, procuram soluções inovadoras e ousadas e abstraem-se facilmente. As pessoas que raciocinam de modo divergente têm facilidade em elaborar e conceber ideias originais. Além disso, ficam obcecadas na demanda da solução para um problema e trabalham com uma série de ideias simultânea e rapidamente, até deparar-se com soluções (Miel, 1972).
(...) Quanto ao raciocínio convergente, é um modo de pensar no qual o indivíduo busca a solução correcta para um determinado problema, do mesmo modo que procura a resolução exacta para uma questão de matemática ou física. Assim, um indivíduo ao pensar de modo convergente utiliza o raciocínio lógico e avaliativo com o objectivo de identificar o verdadeiro propósito do problema e circunscrever o universo de soluções ajustadas ao mesmo.
Qual a relação entre o papel dos hemisférios cerebrais e a criatividade? Pode-se identificar dois padrões de pensamentos discrepantes, sendo um capaz de reestruturar conceitos e outro avaliá-los.
Impõe-se então a questão: Como se caracteriza uma pessoa criativa? Se formos interrogados sobre os traços de personalidade de alguém criativo, quais seriam as respostas? Segundo o estudo de Souza (2001) o perfil do indivíduo criativo envolve alguns traços de personalidade que amadurecem ao longo do processo de criação, nomeadamente ao serem contornados determinados obstáculos no decurso criativo.
O momento de criação no indivíduo é semelhante ao momento de descoberta numa criança. Em ambos, o tempo é ilimitado, sem pressão por resultados, sem vigilância e com imaginação estimulada. Pode-se afirmar que a ingenuidade de uma criança colabora no processo de descoberta e aprendizagem da mesma. O comportamento deste tipo de pessoas corresponde à soma dos seus traços de personalidade, ou seja, molda-se a partir do desenvolvimento das suas habilidades e da não ocorrência de bloqueios durante o amadurecimento da sua criatividade. Este processo de aperfeiçoamento de um indivíduo criativo dá-se com o exercício e fusão de determinados padrões de comportamento pertencentes ao percurso criativo.
Este tipo de pessoas possui padrões de comportamento passíveis de ser identificados através da sua simples observação, tais como uma curiosidade extrema, uma persistência face aos obstáculos, a independência nas suas atitudes, entre outras. Apresentam ainda uma versatilidade de raciocínio admirável, conseguindo com relativa facilidade entender e encontrar novas abordagens e perspectivas onde soluções e ideias podem ser utilizadas. Muitas destas pessoas agem sistematicamente como crianças, ou seja, costumam explorar, experimentar a aprender com os erros, tal como as crianças. Esta é a melhor forma de ajustar e reorganizar as suas ideias, bem como a imaginação. Por último, a inteligência não é evidência de criatividade; inteligência compreende a capacidade de aprender e raciocinar, por sua vez, a segunda é a aptidão de criar novas ideias, conhecimentos e produtos.
Este potencial criativo humano tem, habitualmente, início na infância. Quando ainda crianças, os indivíduos têm iniciativas criativas enaltecidas e estimuladas pelos adultos que os rodeiam. Estas crianças tendem a ser indivíduos adultos mais ousados e inovadores. Quando alguém valoriza o trabalho de um indivíduo criativo, este tende a criar mais. O receio do novo inibe, tornando-se um obstáculo face às habilidades criadoras. A criatividade pode ser assim vista como um importante passo para o desenvolvimento humano. Sumariamente, poderemos afirmar que a criatividade é uma qualidade que todos os seres humanos podem demonstrar na sua maneira de estar, de viver. No entanto, os indivíduos diferem, a sua natureza e a sua educação influenciam a quantidade, bem como a espécie de criatividade que evidenciam.
Cristina Henriques

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