sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sofrimento

Estive a ler um excerto do Insustentável Leveza do Ser do Kundera, que o Leandro colocou no Soturna Primavera. Senti saudades do livro e foi procurá-lo na estante. Durante a minha busca reparei noutro livro que já li há muito tempo, o "Amor Portátil" de Pedro Paixão. Sequei-o logo da prateleira. Depois de uma breve visita ao índice dos capítulos, lembro-me de um em particular: "Sofrimento"...


"O sofrimento pode ter sentido, transformar-nos por dentro. É preciso paciência. (...) Faz parte do sofrimento deturpar as coisas, vê-las atravês de lentes tão fortes que facilmente entontecemos, nos desiquilibramos, caímos. Temos medo de tudo, de nós mesmos. (...) Somos assaltados por demónios que nos roem a alma. É um tormento em que nos atormentamos. É preciso ter paciência e o mais das vezes não temos. A violência da vida bate-nos em cheio. Procuramos abrigos e todos cedem e nenhum é suficiente. Recordamos a paz que perdemos como o bem mais precioso, ignoramos o caminho que nos traga de volta a nós próprios. Falta-nos a coragem, mas para nem encontramos motivo. (...) Agarramo-nos a coisas que se nos escapam entre os dedos. Só a morte está por todo o lado desperta, cerca-nos, olha-nos com os olhos muitos abertos, mete medo. (...) Vivemos, momento a momento, uma solidão que nos aperta a garganta, faz de nós o que quer. Uma música, uma palavra, uma folha caída e é o suficiente para nos trazer uma irremediável precisão de chorar. E quando choramos não sabemos bem porque o fazemos, é só a tristeza a tomar conta de nós."
"Amor Portátil"


Pedro Paixão
"O grito"
Munch

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