terça-feira, 9 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Um homem e uma mulher
Desde há cinquenta anos que não
arrumavam a mesa, um homem e uma mulher,
e ficaram juntos uma vida,
cercados de copos para ovos, chávenas de café,
retratos de seres outrora queridos
de quem haviam já esquecido os nomes.
Desde há cinquenta anos que, sem falhar,
soletravam o jornal do mesmo dia,
um homem e uma mulher,
querendo fazer parar finalmente o mundo:
jovem e festivo
rondando um eixo inquebrável.
Mas sobre a mesa tudo envelheceu.
Até as suas facas e garfos.
Só eles não, esse homem e essa mulher.
Outros dois não viviam mais íntimos
do que eles, asfixiando na sua tralha,
disputando-se o último ar.
Assim por fim os encontraram:
pálidos, jovens, as bocas escancaradas,
num sôfrego desejo um do outro.
Luuk Gruwez (poeta belga)
E no planalto tudo aconteceu.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Pudesse eu
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Querida Aurora
Vamos amanhã de manhã para o Porto, voltamos no final do dia.
Vem connosco.
No regresso ficamos as três no Planalto.
Já só faltas tu. Vamos Amar.
Beijos
Cristina e Violeta
segunda-feira, 10 de maio de 2010
???
Beijo
Aurora
quinta-feira, 25 de março de 2010
recado
Vou tentar ficar uns dias pelo Planalto. Aparece.
Beijos Grande
Violeta
sexta-feira, 19 de março de 2010
O que vai acontecer
Se os habitantes dos subúrbios odeiam
a cidade. Se uns naufragam, outros deliram.
Há os que trepam pelas ginjeiras
em flor. Mas nem a desolação de um
orfanato poderá violar este frio
veremelho que cheira a pêssego; dos
males do mundo manda seriedade e bom
senso, que a haver desfecho, seja feliz.
José Alberto Oliveira (1952)
O que vai acontecer?
Um terreno novo
Soft sheets
What’s this about?
Inside your mahogany cyprus
As long as we’re me and you
We should not lose terrain
Wild and young, we got seasick
On your seven
Get off cheap
That sits with herAnd the warmth of it splatters
We all can wring her neck
First we gain new terrain
When we’re young, we get seasick
On your seven
We’re upset, real tush
Ooh, why I sneeze like no-one
Like most, you snip soft sheets
What’s this about?
Inside your mahogany cyprus
As long as we’re me and you
We should not lose terrain
Wild and young, we got seasick
On your seven soft sheets
Mew
“New Terrain”
O horrível 97
Pensei em ti Violeta, pensei em tudo o que temos vivido. Pensei na Aurora. Onde anda a Aurora? Pensei em ti Vi. Queria-te por perto. Degrau a degrau, gelada… até ao patíbulo.
Cristina
A vertigem do inesperado
Não queria acreditar. Não. Não. Não. Não podia ser. Não. Ali não. Hoje não. As imagens da rua, daquela deprimente realidade passavam por mim, pela minha total impotência, como uma acelerada vertigem. Os movimentos do meu corpo: mecânicos. “-Não penses. Não penses. Não penses. Shhhh. Não. Não. Não penses. Não penses.” Teria parado o tempo. Teria voltado para trás, mas não consegui. A dada altura tentei pensar numa cor, em algo que me faz feliz. Tinha acabado de mergulhar num mar de imagens e cores que me repugnam e não conseguia respirar. Debati-me por uma cor, por um pensamento são, pois só assim conseguiria respirar. Consegui. Era pouco o oxigénio, mas o suficiente para não morrer ali mesmo. Agora que olho para trás julgo que não terá sido oxigénio a deixar-me respirar, mas sim a indomável vontade de partir numa jornada doce que não foi planeada para ter retorno. Uma jornada que nasceu do acaso e passa pelo sentimento mais celeste que existe. Mas ali não. Não. Não.
Cristina
domingo, 7 de março de 2010
Paris
Querido Alex
Passei hoje pelo Quartier Latin e, claro, lembrei-me de ti. Imaginei-te por perto, a passear pelo frio que se fez sentir e a viver a magia daquela cidade. A Cristina também veio comigo, mas como sempre anda mergulhada nas convicções dela que apenas incertezas lhe trazem. Deixa Alex, um dia ela acorda…já não falta muito para a Primavera. Acredita em mim.
Violeta
quinta-feira, 4 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
ashtray heart
Por: Cristina Henriques
Por aqui impera há dias a imagem das raparigas cinzeiro. (“-Cenicero…”) Cinzeiro, simultâneos depósitos de dor (É pá! Alguém cala esse fulano?...) e prazer. Como podem ter prazer na dor que as queimaduras lhes provocam. (“-Cenicero…”) Como suportam o rasgar (Outra vez?) dos músculos do peito? Como podem gritar de agrado? Como pode alguém transportar um peito… um coração… um cinzeiro? (“-mi corazón de cenicero”) Às vezes (Calem-no!!!) tenho a resposta, confesso. Silvano, um amigo meu, perguntou-me se andava a desenhar, neguei. Menti-lhe. Desenhei, mas a paleta utilizada era atroz, por isso menti. Negros, roxos, castanhos, cores rosadas de carne viva pronta a ser queimada… pareciam saídos do mundo de Francis Bacon… Silvano acabou por me enviar uma peça clássica para me colorir um pouco, mas eu ando às voltas com a metáfora do cinzeiro … e isso não é bom. Penso. Quantas vezes vimos a nossa carne (“-Cenicero…”) queimada? (Voltou outra vez…) Os nossos músculos trespassados? Quantas vezes já gritámos de dor? Quantas (“-Cenicero…”) vezes nos deitamos (Vou desistir, ele que fale, que cante…“-mi corazón de cenicero”) em camas frescas e limpas e as transformamos em lençóis de sangue? Há tantas maneiras de ser cinzeiro (“-Cenicero, cenicero, mi corazón de cenicero…” )…tantas. (Deixa… ele que diga… que é um coração cinzeiro) Mais doloroso será pois um coração queimado uma quantidade de vezes, sem uma cicatriz sequer… a pele, os músculos rasgados sem uma única cesura… os lençóis brancos e frescos ainda que depois de uma bárbara tortura… Porque me deixo queimar? O que me atrai nestes episódios sinistros e violentos que depois de vividos estão em perfeita harmonia com o fascinante e o belo? Penso… “Cenicero, cenicero, mi corazón de cenicero…”
Aurora
Concurso: "Olhar Helena e Arpad"
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Sabe-se lá o amor
"Nas televisões segue-se o caso da rapariga inglesa de catorze anos que desapareceu com um americano de trinta e sete. Correspondiam-se por mensagens electrónicas, sem nunca se terem visto ou falado. Marcaram encontro num aeroporto de Paris e depois desapareceram. Talvez para a Irlanda. Talvez para Lisboa. Mais provavelmente para aqui, para perto, muito perto de mim. As polícias de vários países procuram uma qualquer pista, as fotografias dos dois estampadas em todos os diários. Correspondiam-se há meses. Faziam planos para o futuro, coisas simples como casar e ter filhos. Ignoravam que já não é possível casar nem ter filhos. Ou então sabiam-no e revoltaram-se. Talvez sofressem ambos da solidão que não passa, a doença incurável. Por isso aquelas desesperadas cartas electrónicas. E depois o encontro, o rapto, perseguição por todas as policias europeias. Se os compreendo? Se se sabe o que é o amor? Apaixonaram-se um pelo outro, mentindo-se a si próprios e ao outro o necessário para não desesperarem logo face às paisagens em ruínas, às famílias destroçadas onde impera a televisão a todas as horas. Eles acreditaram no amor, eram os últimos. Eles acreditaram na poesia, eram os últimos. A polícia persegue-os seguindo todas as pistas. Com toda a razão. É demasiado perigoso uma rapariga de catorze anos que se apaixona por um soldado de trinta e sete. Qual deles será mais perigoso? Aposto que seja ela. Foi ela que se apaixonou antes de mais nada, não o contrário. Uma rapariga de catorze anos e prodigiosamente inteligente, vê tudo, sente tudo, quer ainda salvar-se da catástrofe que vê avançar a toda a hora, escapar do deserto, fugir da miséria que se acumula em todos o noticiários. Ele será condenado por rapto. Ela voltara para casa dos pais. Disso há que ter a certeza. Ele é responsável, um soldado, um homem feito de trinta e sete anos de violência. As televisões não falam de outra coisa, transformam o amor em violação. Começou a caça ao homem. A rapariga é uma presa indefesa nas garras da inconsciência.
Entretanto o homem e a rapariga amam-se em desespero num quarto fechado, num qualquer hotel barato. Têm medo de sair à rua, do olhar dos outros. Sabem que estão a ser perseguidos, que já foram condenados antes de poderem dizer o que quer que fosse, se para tal encontrassem palavras. Transportam consigo o segredo da poesia. São demasiado vulneráveis. Um olhar basta para os destruir. O homem e a rapariga continuam sentados face a face, amando-se loucamente, sem se tocarem. Acreditam no amor, na frágil flor azul. Estão enlouquecidos. Mesmo antes de se terem encontrado, alma diante de alma, nas redes electrónicas em que o amor atinge a estonteante velocidade da luz. Estão loucos por amor sentados nas camas estreitas, separadas por um pequeno intervalo, no quarto fechado do hotel barato. Não comem nada, bebem um pouco de água. Vão ficar assim imóveis até a polícia os encontrar, os cães à frente. Os cães reconhecem o cheiro do sangue do amor, da poesia nas almas. Os cães chegarão primeiro e uivarão face ao amor e à poesia como um derradeiro louvor, e depois começarão a mordê-los com raiva e fúria, a despedaçá-los até que não restem senão nervos e ossos e vísceras.
O homem e a rapariga de catorze anos estão condenados a desaparecer. São um escândalo insuportável. As famílias morrem de vergonha. Esperam ansiosamente que o par seja encontrado, amordaçado e por fim eliminado. Como a poesia. A poesia tornou-se insuportável. A poesia só sobrevive na loucura de duas pessoas que decidem amar-se, condenando-se à exaustão.
O soldado e a rapariga permanecem sentados na cama baixa olhando-se sem se tocarem. Se se tocassem o amor morreria no mesmo instante, ele sabem disso, sobretudo ela que é mais velha do que ele, muito mais consciente do que ele, embora pareça o contrário. Ela é uma rapariga decidida a levar até ao fim a poesia, um humano tão perigoso que deve ser apanhado logo que possível. Não é que as famílias tenham culpa, já que ninguém tem culpa e as famílias não têm culpa dos indivíduos que formam. Quando a rapariga for encontrada e apanhada pela polícia será imediatamente levada para casa dos pais onde a espera uma lista completa de medicamentos para tomar. Quanto a ele, será interrogado por agentes desejosos de pormenores macabros, licenciosos, no melhor caso pornográficos, e as televisões exultarão, mais uma vez, sobre o cadáver da poesia.”
In "Quase gosto da vida que tenho"
Pedro Paixão
sábado, 20 de fevereiro de 2010
This Picture...porque hoje é 20 de Fevereiro
Of cigarette burns on my chest
I wrote a poem that described her world
And put our friendship to the test
And late at night
Whilst on all fours
She used to watch me kiss the floor
What's wrong with this picture?
What's wrong with this picture?
Farewell the ashtray girl
Forbidden snowflake
Beware this troubled world
Watch out for earthquakes
Goodbye to open sores
To broken semaphore
You know we miss her
We miss her picture
Sometimes it's fated
(We) Disintegrated it
For fear of growing old
Sometimes it's fated
(We) Assassinated it
For fear of growing old
Farewell the ashtray girl
Angelic fruitcake
Beware this troubled world
Control your intake
Goodbye to open sores
Goodbye and furthermore
You know we miss her
We miss her picture
Sometimes it's fated
(We) Disintegrated it
For fear of growing old
Sometimes it's fated
(We) Assassinated it
For fear of growing old
Hang on
Though we try
It's gone
Hang on
Though we try
It's gone
Sometimes it's fated
(We) Disintegrated it
For fear of growing old
Sometimes it's fated
(We) Assassinated it
For fear of growing old
Can't stop growing old...
* "This picture"
Placebo (Sleeping with ghosts)
Foto: Neusa Índio
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Jardim envolvente
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
A senhora que se veste de negro...
Senhora vestida de preto é, de todas as obras de Henrique Pousão, a que mais gosto. Adoro. Adoro aquela senhora ali sentada vestida de negro. Onde está? Quem é? Que faz? Em que pensa? Adoro. Fico a imaginar o que sente ali sentada, para onde olha e qual o verdadeiro significado daquele semblante. E o vestido? Aquele feminino vestido preto parece-me um delicioso pormenor que completa a postura que mantém…misteriosa. Adoro. As cores utilizadas numa pincelada repleta de expressividade, entoam enigma e ponderação, pelo menos para mim que adoro a senhora vestida de preto sentada na cadeira. Quando vou a Museu Nacional Soares dos Reis, casa da senhora do vestido preto, passo sempre pela galeria dedicada a Henrique Pousão e, mesmo que não pare por lá, fico feliz. O soalho do chão, transmite uma sensação de conforto, um convite a sentar, a ficar… ficar e contemplar… a Senhora Vestida de Preto.
Violeta
SENHORA VESTIDA DE PRETO
Henrique Pousão
(MNSR)
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Ulisses e Penélopes
Somos Ulisses. Guerreiros numa demanda sem fim. Ítaca, a nossa casa. Uma pequena porção de terra rodeada de mar, um porto seguro. Lar, onde a precisa e leal Penélope nos espera e educa. Somos Ulisses, guerreiros de um pequeno exército, na busca pela intensidade de momentos únicos. Somos Ulisses presos no sabor da liberdade. Um dia voltamos para Ítaca. Voltamos sempre, mas não é um regresso efectivo. Nunca será. Uma vez sentida a liberdade nunca nos poderemos apartar dela. Nunca. O doce sabor de uma batalha ou o cheiro de uma conquista… somos Ulisses.
E Penélope? Penélope espera por nós. Espera por nós? Penélope sabe que não voltamos verdadeiramente mais a casa, então porque esta delicada filha de Ícaro não desposa um dos seus pretendentes? Porque teima em tecer esta coberta que secretamente à noite desfaz? Porquê? Para Ulisses como nós é árduo entender esta Penélope. Porque espera alguém que irá sempre partir?
Todos somos Ulisses, mas também todos já fomos algum dia Penélopes. Todos. Já esperámos. Já mandámos embora quem nos pretende. Já ansiámos pelo camponês que provou ser Ulisses. Já habitámos a liberdade da razão. Sabemos o que sente Penélope.
Então, somos ambos. Penélope e Ulisses. Ambos fiéis … a sim mesmos. Verdadeiros e sinceros na razão e no instinto. Penélope será sempre Penélope (ou não…). Enquanto Ulisses… You`re never going home.*
Violeta
*Ulisses, Franz Ferdinand
composição por: Rute Baratizo (9ºD)
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
É sexta-feira
Tuesday's gray and Wednesday too
Thursday I don't care about you
It's Friday, I'm in love
Monday you can fall apart
Tuesday, Wednesday break my heart
Oh, Thursday doesn't even start
It's Friday I'm in love
Saturday, wait
And Sunday always comes too late
But Friday, never hesitate...
I don't care if Mondays black
Tuesday, Wednesday - heart attack
Thursday, never looking back
It's Friday, I'm in love
Monday, you can hold your head
Tuesday, Wednesday stay in bed
Or Thursday - watch the walls instead
It's Friday, I'm in love
Saturday, wait
And Sunday always comes too late
But Friday, never hesitate...
Dressed up to the eyes
It's a wonderful surprise
To see your shoes and your spirits rise
Throwing out your frown
And just smiling at the sound
And as sleek as a sheik
Spinning round and round
Always take a big bite
It's such a gorgeous sight
To see you eat in the middle of the night
You can never get enough
Enough of this stuff
It's Friday, I'm in love
I don't care if Monday's blue
Tuesday's gray and Wednesday too
Thursday I don't care about you
It's Friday, I'm in love
Monday you can fall apart
Tuesday, Wednesday break my heart
Thursday doesn't even start
It's Friday I'm in love
Porquê? Porque são as primeiras horas do ano, é sexta feira e estou apaixonada pelo sabor da vida.
Violeta
Rene Magritte
Threate ningweather