domingo, 25 de outubro de 2009

duas coisas tão distintas como “meu amor” e “meu amor”

Meu amor, basta ouvir a entoação. Repara, quando digo “meu amor” digo-o de forma diferente de “meu amor”. É bem claro, se digo “meu amor” não digo “meu amor”. Entendes, meu amor? “Meu amor” chamo a quem gosto e por quem tenho estima. Já “ meu amor”… não. Não chamo a ninguém. Devo ter chamado “meu amor” a duas pessoas na minha breve vida, mas não volto a fazê.lo. Não. Fechei quem de direito à chave e não volto a abrir. Acabou. Acabou e não há mais “meu amor” para ninguém. Fico com os “meus amores”. Pessoas de quem gosto e pelos quais tenho uma leal estima e que vão deixando marcas…marcas bonitas de serem sentidas. Entendes, meu amor?

Violeta

por: Cristina Henriques

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Quarto 909

"O quarto é o 909. A porta fica aberta. Quando chegares, entra." E deitei-me sobre a cama, duas almofadas debaixo da cabeça, um livro de poesia nas mãos. Por mais que tentasse ler, regressava sempre ao mesmo verso, "porque aqui não se pode amar, senão deixar-se amar", por me parecer mesmo verdade e ficar a pensar nisso ou porque a ansiedade me imobilizou qualquer gesto. Eu estava à tua espera há muito tempo, é bem verdade. "

Amor portátil
Pedro Paixão


Quarto, por Cristina Henriques

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Hoje choveu.

A frase dizia qualquer coisa como:”manda-me uma palavra”… Só uma. Uma. Às vezes necessito de qualquer coisa… uma espécie de inspiração e, muitas vezes, quanto mais pequena… melhor. É nas coisas ínfimas e simples que encontramos aquilo que nos altera, no sentido de vivermos um pouco mais a dita “efémera felicidade” que todos buscamos. Por isso, uma palavra. Uma só palavra pode ser sinónimo de nada, mas pode também ser sinónimo de tudo. Lembro-me sempre da passagem de uma carta que Frida Kahlo escreveu ao seu amigo de longa data Alejandro Arias, na qual dizia qualquer coisa como “escreve-me, nem que seja só uma palavra, mas escreve-me. Assim saberei que enquanto escrevias aquela palavra pensavas em mim…” Frida era brilhante. Um gigante brilhante, mas assustado. Assustado com uma coisa que se chama esquecimento... Uma palavra. Uma só. O poder do seu significado. Lápis, mar, manta ,colher, entardecer, arrepio, pedra, cheiro, … não importa se é um verbo, um adjectivo ou um substantivo, é uma palavra e as palavras transportam-nos. Leio: “chuva” e de repente já não estou aqui… não. Fui transportada pelo significado e estou no meio de um sítio mágico, numa cidade que adoro. Chove. (Eu amo a chuva, mas…) Chove muito. Refugio-me num espaço que me assombra com a sua intensa magia… estou na Casa Batlló. Logo nas primeiras salas não deixo de me encantar com uma das minhas filhas que tenta brincar com todas as formas das paredes e das portas… são rampas, são montes, são florestas e ela rapidamente compõe um conto infantil. Na verdade, ela também já não está ali, já está num outro lugar onde a magia dos talhes tomou conta da sua fértil imaginação de criança. Uma palavra. Às vezes basta uma palavra.


Violeta

A Popcorn na casa Batlló

foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

No mar (poema)

Das torres de areia e silêncio
Uma mulher se ergue no espaço,
Abraça a cal do tempo. Ama só.
E murmura à espera do encanto.
Líquida como a água,
Arcaica como o sonho.
De sangue e carvão verte as veias,
Chora a desventura, ri do que vem.
“- O mar sou eu”. Remota feito sonho,
Mira o rosto ao firmamento; nada vê...

Nas agruras da chuva que não vem,
No inconstante das ondas caudalosas.
Sem reposta ou esperança
Dissolve a vista que erra a esmo,
Abre o peito, resiste à dor.
Pra um dia se encontrar e morrer,
De uma vez ir e se perder,
Na promessa de um mar sem termo.


por: Leandro M. de Oliveira (Lee)

**A você Cris, mais uma vez minha amizade e meu zêlo. Que o mar se abra pra que possamos fazer a travessia derradeira.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

No mar


por: Cristina Henriques

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Para todos

De repente não posso dizer-te
o que te deveria dizer,
homem, perdoa-me, saberás
ainda que não escutes as minhas palavras
que não me pus a chorar nem a dormir
e que estou contigo sem te ver
desde há muito e até ao fim.

Eu percebo que muitos pensem,
e Pablo o que faz? Estou aqui.
Se me procurares nesta rua
encontrar-me-ás com o meu violino
preparado para cantar
e para morrer.


Pablo Neruda


por: Cristina Henriques

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Room 527 (Parte I)

Aqui vai…
1…2…3…(pausa) Espera. Espera, deixa-me respirar. Não é fácil. Não penses que é fácil. (pausa). Ok…agora… Sim, pode ser. 1,2,3: o dia, a casa, o mundo, as horas, o duche, a toalha, o vestido, os sapatos, as horas. (pausa) o telefone, a garagem, o carro, a estrada, a velocidade, as horas, a estrada, a musica… a musica… não me lembro da música. Como não me lembro da musica? Espera, espera… lembro-me… lembro-me. Escolhi alguma coisa que me levou até um lugar seguro… Agora lembro-me bem. De volta à estrada, a velocidade, o medo, as horas ….(pausa) a mensagem… (pausa). (respira, respira, respira, res…) a reposta. Agora, a resposta à resposta…O carro, a velocidade, os semáforos, o estacionamento subterrâneo… a porta do carro aberta… (pausa) o elevador. O elevador… o reflexo do vestido no espelho… os sapatos… estes sapatos fazem-me lembrar o movimento Arte Nova…muito… Klimt. Klimt… O corredor e a macia carpete debaixo dos meus sapatos… sapatos e passos… a passada pelo corredor…. A porta…o número…o toque suave e a medo… (pausa).a parede, o roupão, a mala, o beijo ,os sentidos…todos. (pausa) a tua mão na minha cintura, nas nádegas, (pausa) em todo o lado…o prazer de estar finalmente ali e ser enfim tua.


Room on fire

The Strokes

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

e porque hoje é Dia Mundial da Música...

por: Cristina Henriques