segunda-feira, 20 de julho de 2009

Querido Alex

Onde estás? Não sei nada de ti há semanas, reconheço que esta ausência me começa a angustiar. Temos as nossas divergências, mas este teu silêncio mata-me. Por onde andas? Voltas-te para Paris? Às vezes imagino-te por lá, pelo Barrio Latino… como é doce o que imagino...
Alex, a Vi está verdadeiramente preocupada com este teu afastamento. Claro que não fala disso, mas eu sei que ficou a pensar naquela ida ao teatro contigo… aquilo deve de lhe ter saído num ataque de coragem impar.
Tenho tantas coisas para te contar, mas para isso preciso que voltes.

Beijo
Aurora
O Gato
Chagall

Nickolas Muray

Coyoacán, 31 de Maio de 1931

Nick,


Amo-te como a um anjo.
És um lírio do vale meu amor.
Nunca te esquecerei, nunca, nunca.
És a minha vida inteira.
Espero que disso nunca te esqueças.



Frida


Por favor, vem para o México, como me prometeste! Iremos juntos a Tehuantepec, em Agosto.


Frida Kahlo fotografada por Nickolas Muray


Nota: Nickolas Muray (Hungria, 1892 - Estados Unidos, 1965), fotógrafo, crítico de dança, aviador, campeão de esgrima, foi apresentado a Frida, no México, por Rosa Rolando e Miguel Covarrubias. A relação amorosa entre ambos tornou-se mais profunda quando Frida chegou a Nova Iorque para apresentar a sua primeira exposição individual em 1938.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Sonho


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

foto: Cristina Henriques

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SAIR

por: Cristina Henriques


terça-feira, 7 de julho de 2009

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago



foto: Luis Pereira

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O planalto v/s Nova Iorque

Reparei que afinal não é um rio que separa as nossas margens, é um oceano. Atlântico. Um poderoso Atlântico. De um lado uma extraordinária cidade. Um magnífico hotel. Um quarto. Um sereno fim de tarde após uma bela sessão de compras na quinta avenida. Do outro lado, a “cauda” da Europa. Um abandonado planalto. Uma humilde aldeia situada no coração de um maciço calcário com cerca de 140 milhões de anos. Milhares de quilómetros separam este modesto lugar e a sofisticada metrópole que se auto denomina como a capital do planeta. Não falo apenas da uma distância geográfica… de todo. Quando penso em todo este cenário, vejo opostos. Num dos pólos estás tu no país das “liberdades”, a viver um 4 de Julho ao vivo, algo que te remete para a história dos homens que tu tão bem conheces e gostas. No outro pólo, eu, rodeada pelo silêncio e frio do maciço. Tudo isto não passaria de uma banalidade se não fosse o facto de tu viveres numa cela… Podes estar em qualquer lado, na cidade mais desejada ou no meio da savana africana, em nada isso altera o teu estado e a tua condição de prisioneiro. Prisioneiro de ti mesmo. Estás enclausurado. Aqui, no planalto, não há ninguém. Há minha volta não há nada, apenas… a liberdade.


Aurora

foto: Cristina Henriques

domingo, 5 de julho de 2009

Eu continuo sem perceber porque te permito isto. Não entendo. Entras sem qualquer contrariedade e instalas-te. Teimo em deixar que me agridas, para que assim, me possa sentir ferida. Como se as feridas me fizessem estar mais perto de ti…Sinto o modo como chegas, como preparas a lança, como me rasgas a carne… até sentires os meus ossos. Sinto a dor. Sinto cada pedaço dessa dor atroz. Agonio no chão, mas não te mando embora. Não entendo. Como te disse, só um ser superior e omnisciente saberá porque te quero aqui. Não me incomoda o modo violento como estás comigo, importa-me a tua presença. Quero-te aqui agora, neste momento. Mas... há sempre um fim para tudo. Para tudo. Um dia, eu não vou estar mais à tua espera. Um dia chegas e eu não te permito mais a agressão. Nesse mesmo dia, serás tu a sentir o poder da lança na tua pele.

Com amor
Aurora

La Columna Rota

Frida Kahlo